CONFINAMENTO
De repente, é como se tivéssemos uma pistola apontada a nós. Tipo roleta russa, não sabemos se a bala está engatilhada na câmara. Sensações novas com que não estamos habituados a lidar. É o medo. É também o medo de ter medo, já que é tão limitador. É também a quebra da rotina social.
Para quem vive só e gosta, passa a sentir-se isolado, desamparado, solitário, que é diferente de ser sozinho. É como se a solidão, outrora a nossa melhor amiga, tivesse morrido, com a promessa de ressuscitar, só não se sabe quando. Reclusão, é o que se sente quando essa nossa amiga morre.
Há tempos li um livro em que uma das personagens, num deserto, cansado, cheio de sede, correu horrores porque viu uma figura ao longe e quando a alcançou viu que tinha feito aquele penosos trajecto só para lhe dizer boa tarde. Foi recebido com indiferença, mas a felicidade que sentiu bastou-lhe. Hoje senti-me um pouco aquela personagem, sempre que o telemóvel tocava, corria para atender. Não pude abraçar quem me ligou, mas a felicidade que senti bastou-me.