Mudando Mundos
Penso que estaremos em acordo seu eu disser que muitos de nós temos uma vontade gigantesca por mudar o mundo, transformar o cenário atual, fazer da realidade algo mais agradável e satisfatório. O problema é que dentre esses muitos há aqueles, talvez a grande maioria, que pense que para mudar o mundo é necessário se empenhar em ações gigantescas, em conseguir um palco no centro do universo para expor seus ideais, suas palavras, seus pensamentos tidos como revolucionários e convincentes para a ambiciosa modificação que se almeja no cenário do qual fazemos parte. Tais pessoas não se apercebem de um fato extraordinário, é impossível mudar o mundo.
Essa concepção fantasiosa de mudar todo um globo é inconcebível. Se nem os grandes artistas, com milhões de seguidores nas redes, com bilhões de fãs ao redor do mundo, conseguem atingir o público com a essência de suas mensagens, quanto mais nós, meros mortais que contamos com dezenas de amigos (embora ter tanto alcance não seja antônimo de solidão, ao contrário, podemos ter muito poucos amigos em nosso círculo social, mas talvez sejam os melhores que alguém poderia ter). A questão é que essa ideia de grandeza, de focalizar na massa, é perda de tempo, o caminho é outro e muito mais fácil.
Queremos mudar o mundo, mas somos incapazes de mudar o mundo de alguém. Nós, que pensamos grande, que sonhamos com uma mudança drástica em toda uma sociedade, somos capazes de fazer da vida de alguém, do dia de alguém, das horas de alguém algo inegavelmente prazeroso? Conseguimos olhar para aqueles que estão ao nosso redor, bem do nosso ladinho, e sentir a sua dor, a sua aflição, a sua tristeza e além de ofertar um lenço para que as lágrimas sejam colhidas, oferecer nosso ombro como apoio? Conseguimos conceder um abraço despropositado, de repente, só para vermos o sorriso no rosto de uma criança entristecida? Será que temos a possibilidade de estender a mão a um andarilho e, ao invés de apenas ajudarmos com o pão, oferecermos nossos ouvidos para que ele possa falar e, assim, se sentir humano? Será que nos permitimos à chance de falar às pessoas que amamos o quanto elas são especiais em nossas vidas tudo para que elas se sintam amadas e insubstituíveis? Conseguimos viver com gentileza? Conseguimos espalhar amor entre os nossos familiares? Amizade entre os nossos vizinhos? Companheirismo entre os nossos amigos? Conseguimos transformar a tristeza de alguém em alegria ou ao menos oferecer alguns instantes de alívio para sua a dor? Queremos mudar todo um planeta, mas não conseguimos mudar a nossa casa.
Pior. Não conseguimos mudar nem mesmo o nosso interior. Não nos valorizamos, em muitas vezes nos sabotamos, desacreditamos em nós mesmos, cobramo-nos impiedosamente, exigimos o impossível do nosso corpo e da nossa mente, não olhamos no espelho dispostos a procurarmos por nossos melhores tracejos, pelos nossos mais belos e únicos detalhes. Não mudamos o nosso modo de pensar, de agir, de falar com as pessoas e de tratar a nós mesmos e queremos construir um mundo diferente? Que mundo seria esse? Tão caótico quanto às nossas relações? Tão apático quanto a forma como nos tratamos?
A mudança pode sim acontecer. Não nessa escala global, pelo menos não diretamente. É como numa construção, começa da base, do alicerce, para então se chegar ao telhado. A mudança que queremos começa em nós mesmos, no nosso relacionamento com a nossa própria existência e no nosso envolvimento com as pessoas que estão tão próximas a nós. Esse começo individual, com certeza, garantirá uma evolução global!
(Texto de @Amilton.Jnior)