O peso de conviver com problemas mentais e distúrbios de aprendizagem
Se há algo que atormenta a uma pessoa com problemas mentais, seja esquizofrenia, depressão, ansiedade ou bipolaridade, é sentir que é um peso para os outros. Poucas coisas são tão dolorosas para uma pessoa com problemas – mesmo que seja apenas depressão – do que saber que as pessoas próximas a ela reclamam do fato dela ser “histérica”, “descontrolada” ou “doida”, como se ela houvesse pedido para ter tal transtorno. Sejamos francos. Reclamar de uma pessoa depressiva por causa de suas crises de depressão faz tanto sentido quanto reclamar de um gavião por atacar pintinhos ou pássaros menores. Assim como o gavião simplesmente segue sua natureza, a pessoa com transtornos mentais não tem crises de choro, pânico ou delírios porque quer. E, para ela, é um tormento constante conviver com seus problemas, principalmente quando ela sente que pode estar sendo um peso para os outros.
Infelizmente, apesar dos avanços no sentido de entendermos melhor as doenças de ordem mental, que são tão incapacitantes quanto as de ordem física, o preconceito persiste e não é raro os próprios familiares virem a reclamar da pessoa com distúrbios, até mesmo os de aprendizagem, como dislexia, déficit de atenção ou hiperatividade. Problemas que dificultam nossa aprendizagem nos fazem sofrer mais quando estamos em idade escolar, ainda mais porque é frequente que sejam confundidos com “preguiça”. “lerdeza” ou simplesmente “burrice”. E a criança sofre muito por não se enquadrar. Muitos adultos que tiveram problemas na escola e foram diagnosticados com tais problemas já adultos sofreram muito quando crianças porque eram qualificados como incapazes ou desinteressados dos estudos, além de enfrentar a incompreensão dos colegas, educadores e dos parentes, que os faziam se sentir inadequados.
Antes de falarmos de alguém por ser “doido” ou “lento para aprender”, lembremos que as pessoas não têm problemas porque querem. Quem quer ser esquizofrênico ou disléxico, ou seja, ter um problema que, além de dificultar a vida, ainda leva alguém a ser estigmatizado? Seria ótimo que as pessoas se interessassem mais por entender o universo das doenças mentais e dos distúrbios de aprendizagem antes de julgar e estigmatizar as pessoas, tratando-as como se fossem inadequadas e um peso para uma sociedade que exige que as pessoas sejam “normais a todo custo” e se enquadrem.