EU E O CORONA

Corona vírus, vc passa por ele ou ele passa por vc.

Fico me questionando como me contaminei, pode ser de tantas formas, mas creio que foi quando levei do postinho o paciente Antônio idoso com vários sintomas ao hospital. Cinco dias depois eu estava internada, mais ai eu já não me lembro de muitas coisas, febre muito alta, desorientação, falta de oxigênio e a teimosia. Eu estava com todos os sintomas clássicos do COVID mais comorbidades como chamam, entrei hipertensa e sai diabética.

Já internada aguardei vaga na UTI, infelizmente meu caso só tinha chance de estabilizar se fosse para um coma induzido com respiração mecânica, alimentação por sonda, sonda para urinar e fraldas. Tudo isso eu não lembro só sei pelo prontuário medico, que tbm relatou as horas que eu ficava de 'prona' que é de barriga pra baixo. O fato é que minha mente pouco estava lá, não é como dormir, são sequencias intermináveis de pesadelos sem fim, que eu me questionava se aquilo era a morte sem saber que eu estava viva. Segundo a evolução medica diminuíram a sedação para ver se eu respirava sozinha, e deu, fui para oxigênio em cateter e 2 dias depois estava no quarto, onde começou meu segundo pesadelo. Eu não sabia quem eu era nem minha idade e muito menos o que estava fazendo ali, meu corpo mal se mexia, eu estava sozinha num quarto, eu sentia um desespero um terror, onde eu dependia de alguém para trocar minhas fraldas me limpar e me mudar de posição, eu tive que aprender a comer mas tudo tinha o mesmo gosto, pouco eu comia, os remédios e antibióticos injetados no acesso central me davam mais enjoos. Não conseguia dormir, a ansiedade invadia o quarto. Vieram os pesadelos, a sensação de morte rondava, senti medo de morrer sem conseguir segurar a mão dos meus familiares e amigos. Fui tomada pelo desespero. Até que um dia uma mulher a psicóloga disse: Audrey quer falar com sua mãe? Naquela hora um filme da minha vida passou na minha cabeça á 300km/h, e eu com semblante de não estar entendendo bem, falei: Minha mãe, é minha mãe mesmo? Sim, é a sua mãe. Bom sei que cai na real, falei com minha mãe e tive certeza que ela estava viva e que eu tbm. Esse foi o ponto chave para eu reagir e botar funcionar meu corpo, e encher o saco da medica para me dar alta. Num dia eu consegui sentar na cama tudo com ajuda da fisioterapeuta que acreditava em mim. No outro sentei na poltrona, outro dia de três passos, e por fim consegui com ajuda ir ao banheiro. Então me deram alta, estava curada do vírus, porem fiquei cheias de sequelas. Minha cabeça e meu corpo esqueceram de ter autonomia, então precisei de pessoas com muita paciência e boa vontade para me ajudar. Em resumo eu era um bebe tamanho XXG. Sigo fisioterapia, médicos, medicações, ainda não consigo dirigir, e hoje eu derrubei um bolo no chão, ops desculpa ai.