Há sempre uma brisa a repousar nos tímpanos do grande mistério lírico.
Os poemas também morrem de amores como os homens os deuses a gramática e todas as generalizações com que enganamos a vida, sobretudo a morte.
O poeta nada sabe de uma crê tudo saber da outra, mas de amor só ouviu falar e neste sabe-que-não-sabe ensina a loucura enquanto os peixes acasalam em aquários de água doce porque há palavras que ardem na boca antes de chegarem ao mar.
E pergunta-se por que não consegue nadar?
E quer saber por que as palavras são salgadas e queimam os livros que lhe crescem nas pontas dos dedos?
As pernas agitam-se sobre as linhas mas as rimas roubam-lhe o chão e o verso:
Serei a mentira mais grosseira de deus?
O criador, cansado de amar com palavras, atravessa a existência lenta uma e outra vez na síntese dolorosa de todas as coisas:
Apenas homem a ferir palavras e de peixe apenas sabes a morte pela boca.
Apenas homem.
▪︎O dia fechou-se atrás de si, escolheu sair do tempo. Já de costas nem percebe aquele pequeno poema a pestanejar nuvens cada vez mais longe dos lábios.