Nem sempre haverá outro dia
Quando vemos, o sol já raiou, o relógio despertou e é chegada a nossa hora. Quando vemos, o sol já se escondeu, a noite ressurgiu e o dia acabou. Quando vemos, as semanas passaram, os meses voaram e os anos se findaram. Quando vemos, pessoas queridas já foram embora, nossos filhos se tornaram adultos e os fios brancos despontaram sobre nossas cabeças. Só vemos o final das coisas, ele é sempre dramático, chama a atenção, mas dificilmente nos apercebemos do caminho que cada uma dessas coisas percorreu até alcançar a consumação. Vivemos cegados pelos nossos afazeres, pela correria da vida cotidiana, ao ponto de, assim como não apreciamos o desabrochar de uma rosa, não conseguimos apreciar o desenvolvimento da vida nem com ele aprender. Achamos que tudo aconteceu rápido demais, mas fomos nós que ignoramos os belos detalhes da vida.
Uma paisagem sem os seus detalhes é pobre. Uma poesia sem os seus toques sutis é vazia. Uma vida sem as minúsculas passagens que a compõem é sem sentido e por isso nos afadigamos, entediamos, perdemos o interesse pelo que de melhor possa existir na nossa travessia por esse mundo tão vasto, imenso, atrativo às descobertas. Achamos que investimos tempo em assuntos importantes, mas desperdiçamos fôlego com gritos que não são ouvidos por ninguém, porque viver plenamente é descobrir que os mistérios da vida estão contidos na simplicidade, é ela quem nos enriquece.
Depois não adianta se cobrir de arrependimentos, depois não adianta firmar promessas que nunca serão cumpridas, só se vive uma vez, só há uma chance para que façamos a coisa certa, o tempo passado nunca volta, tudo o que temos é o que nos resta a partir de agora, mas quem sabe quanto tempo ainda temos? Em um segundo tudo pode mudar, a nossa existência pode alcançar o seu limite, somos frágeis demais para acharmos que sempre haverá outro dia porque chegará o momento que esse outro dia não mais existirá. Viva com sabedoria, inspirado na canção Epitáfio, dos Titãs: “Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se pôr. Devia ter me importado menos com problemas pequenos, ter morrido de amor”.
(Texto de @Amilton.Jnior)