• PASSE DE MÁGICA ²
Confesso, eu quis perdoar você. Quis permanecer e ficar próximo, manter a amizade, manter todo encanto e fascínio por você ileso, mas não é possível. Confesso, não quero. Não quero manter alguém, seja quem for, ainda que aprecie, respeite, admire em minha vida, para quem sou opção, para quem sou a opção quando as prioridades estão cumpridas, ou quando não existe nada mais interessante para fazer. Confesso, quis perdoar você! Mas depois de dias confusos, de angústia e tristeza, minha interpretação e percepção fez compreender que foi apenas obra da minha imaginação, uma ilusão de você, criada para alimentar e satisfazer minha vontade e desejo de ter alguém na minha vida. Não foi culpa sua, você foi um reflexo, do que toda minha expectativa havia concebido e imaginado para minha vida, para mim, um sonho inalcançável e inconcebível para realidade do desapego, da efemeridade das relações e dos relacionamentos, mas não posso perdoar você, por arrancar a ilusão de mim de forma incoerente e irracional, com gestos, atitudes e atos, minuciosamente orquestrados, pelo silêncio diante das indagações e dúvidas, pela incerteza diária provocada por sua ausência e falta. Confesso, perdoar você, não é possível, ainda que seria a forma mais justa e sincera de desapego, de seguir em frente, de desfazer da ilusão criada para fazer de você, uma obra prima, mesmo uma musa, uma inspiração diária para um sonho, para uma vida sonhada em detalhes e com capricho. Não pude perdoar você, não por fazer ruínas do sonho, mas porque pude sentir no coração e alma todo sofrimento que nunca pude imaginar, que acredito não haver merecido, foi ter sentido em cada gesto e atitude sua, ir em uma viagem alucinada do tudo ao nada, do querer ao não querer, e pior não ser importante mesmo à sequer explicação. Confesso, perdoar você seria uma forma de seguir em frente, de desapegar definitivamente da ilusão, de tudo que foi concebido e imaginado a respeito do que poderia sentir, do que poderia ser, de cada detalhe minuciosamente sonhado para ser para dois, para ser sob medida para dois. Mas foi tudo uma ilusão, você foi uma criatura criada pela minha imaginação, pelo encanto e fascínio exercido sobre mim, desfeito em um passe de mágica, um estalar de dedos que desfaz o efeito hipnótico criado para fazer ver e sentir o que não é real. E foi mesmo surreal, sentir que minha presença antes desejada agora causava aquela sensação de estar sendo pressionada e incomodada, que minhas atitudes antes esperadas e aguardadas agora era irrelevante, que mesmo respostas não era necessário ou prioridade ser respondidas. Quis perdoar, e continuar mantendo a ilusão de uma proximidade, de uma reciprocidade e empatia, uma admiração e respeito mútuo, mas é impossível e inconcebível diante da mágoa e ressentimento causado, da dor e sofrimento sentido, não do foi arruinado ou desfeito, mas a falta mínima de cuidado e zelo, com atos e atitudes de menosprezo que pude sentir. Quis ficar mas não pude, e não seria admissível para alguém que sente tanto, porque cada lágrima, cada noite mal dormida, cada dia de um silêncio, fez tatuar e marcar na alma e coração a indiferença e irrelevância de minha presença, do apreço e estima, do respeito e admiração, do carinho mínimo que pode existir em uma relação seja em que nível for, cativar e cultivar, cuidar e zelar, não faz mais sentido para mim, assim como nunca fez para você. E não desisti de mim, desisti de você, da dor e sofrimento causado, de quem fez do meu sentir, do meu querer, uma opção. Desisti de você, sem deixar de desistir do melhor em mim, que não foi suficiente e importante para você.
• Damien Darkholme