"Odeio o Brasil (Amo a Escuridão)"*

Conheci o Burzum em 1999, junto de mais dois amigos. Era o disco "Hvis Lyset Tar Oss" (até a semana passada, o melhor do compositor e músico norueguês; "até a semana passada, Dáblio Vê? E por quê?" Vou explica melhor a seguir...)

Foram anos curtindo a discografia de um músico de grande criatividade (malgrado sua ideologia de extrema direita, neo-nazista – deixemos isso claro, ok?), que parecia conhecer a alma humana e seu diálogo consigo mesma. Muitas canções de Varg Vikernes mexiam comigo. Já expliquei, aqui, o porquê disso.

Tentei evitar postar esse texto porque estou tentando deixar tudo o que me traz dor, mágoa e chateação para trás (inclusive duas contas no Facebook). Todavia, não posso manter esse descontentamento preso à garganta. Está a me fazer mal. Eu preciso "vomitar", desabafar. Se não, sofrerei com isso. Pretendo enterrar essas cinzas. Explico melhor.

Semana passada eu soube que o referido compositor, via Twitter, postou uma lista dos países que (PASMEM!) ele alega ODIAR. O Brasil (o NOSSO BRASIL: terra de contrastes, de geografia maravilhosa e cujo povo lida bem com as adversidades que, em parte, ele mesmo ajuda a sustentar – o atual DESgoverno F*deral deixa isso explícito) está em 4º lugar na lista. Quem observar bem o (infame) rol, contendo 10 países que são odiados pelo "ariano", notará que os motivos que o levam a nutrir esse pathos (ou seja, paixão, morbidez, debilidade emocional etc. em grego) não passam de ideologia neonazista. Nada mais, nada menos. Notável – falta de inteligência e, mais que tudo, de GRATIDÃO aos seus admiradores e fãs de sua música.

O "cavalheiro" diz que somos um povo miscigenado e, em virtude disso, um povo inferior. Sim: somo miscigenados, isso é uma questão histórica, não há como negar. Quanto a isso ter algum efeito negativo, desconheço. Antes de eu me tornar estudante de Antropologia (e, agora muito mais), já não concordava com essa história de nacionalismo, xenofobia, neonazismo etc. A Superioridade e seu Oposto, a meu ver, pautando-me em observações práticas (e teóricas; por que deixa a literatura de lado?), são notadas pela excelência de propósitos humanos (Solidariedade, Gentileza, Fraternidade etc.) ou pela sua ausência (Inferioridade: Egoísmo, Egocentrismo, Etnocentrismo, Racismo, Especismo etc.).

Eu, Brasileiro, concordo que entre nós haja um número enorme de pessoas SEM educação NEM respeito pelo próximo (vizinhos que invadem o espaço dos outros, seja com barulho, seja fisicamente; pessoas que circulam sem máscara de proteção facial em época de pandemia e outros tantos exemplos sem fim). Não obstante, elas deverão aprender, a curto, médio ou loongo prazo, pelo amor ou pela dor, a falta que a educação e o respeito ao próximo fazem. Até lá elas continuarão a errar (lato sensu). Todavia, não perco meu tempo nutrindo ódio a elas. Prefiro debruçar-me em literatura antropológica e esforçar-me em compreender o porquê dos problemas de meu país, de minha época (em relação às outras) e os meus problemas pessoais. Não é fácil compreender o ser humano – quanto mais o homem branco, descendente de europeu, miscigenado ou "puro". Entretanto, nem por isso vou ter ódio a ele. Por que eu deveria? Ainda mais sendo um eterno estudante, um eterno aprendiz, como pretendia Gonzaguinha (que Deus o tenha!)? A Vida é Bonita, é Bonita, é Bonita. Vivamos sem medo de sermos felizes.

Quanto à tal lista do "cavalheiro" "ariano", ela remete demais a uma lista feita por uma criancinha mimada, que espalha pela escola um bilhetinho com os nomes dos coleguinhas de classe de quem ela crê não ter o menor sentimento de respeito; que ela imagina odiar.

Chico Xavier, num de seus livros, diz que tudo nessa vida é amor. O ódio, ele mesmo, é o amor que ficou doente. Velho, isso é emocionar! Sim! Sábias palavras. O ódio é um amor doentinho, mórbido, que procura chamar a atenção para quem odeia, por algum trauma de infância ou algo congênere. Creio que psiquiatras podem muito bem tratar disso com terapia humanista. Sem precisar de apelar para medicamentos.

Varg Vikernes cometeu assassinato em Agosto de 1993. Ele também conta com acusações de ter incendiado uma ou mais igrejas na Noruega, um tempo antes. Sinceramente, mesmo após ter passado quase duas décadas na prisão, comendo, no começo, o pão que o diabo amassou, parece não ter aprendido nada com esse tempo de aprendizado naquele ambiente tão incômodo, frio, solitário.

Nós, Brasileiros e Brasileiras, portadores de um mínimo de inteligência e amor próprio, deixamos clara nossa nota de repúdio às palavras indignas, mesquinhas, nada inteligentes, do cidadão noruguês (que declara odiar, igualmente, a capital Oslo, de seu país natal...).

Senhor Vikernes, por favor, repense tuas palavras. NÃO cuspa no prato que comeu. Hitler se matou em 1945 porque viu que não seria possível lutar contra o mundo. Deveria ter percebido, ainda um pouco tarde demais, que sua inteligência fora utilizada para fins NADA inteligentes.

Ademais, nada tenho contra etnia ou raça alguma. Mas a título de trocadilho, afirmo que Ariano, para mim, só o Suassuna. Esse sim um Senhor Autor – e Brasileiríssimo. De facto.

NOTA

* "Burzum" significa "A Escuridão" no idioma criado por J. R. R. Tolkien em sua saga "O Senhor dos Anéis".