A VISITA
Era um domingo comum no ano de 2014, mais uma missa das 19:30 horas na Igreja do Conjunto Santa Lúcia, na cidade de Aracaju, Estado de Sergipe, extremamente igual a tantas outras missas celebradas pelo Padre Peixoto. Apenas era um dia de chuva e por esta razão as pessoas que geralmente ficam assistindo do lado de fora, neste dia estavam acomodadas internamente. Registre-se que este pároco mantém em todas as suas missas e homilias uma alegria própria, digna de um verdadeiro pastor recém iniciado na vida eclesiástica.
A igreja estava cheia como de costume e habitualmente fico em pé na entrada, do lado direito, ao lado do local onde são colocados os avisos. Para quem é católico ou evangélico conhece algumas destas músicas que fizeram parte daquela noite, tais como: “Deixa a Luz do Céu Entrar (... Deixa a luz do céu entrar, abre bem as portas do teu coração e deixa a luz do céu entrar...); Amar te mais (...Amar-te mais que a mim mesmo, Amar-te mais que tudo que há aqui, Amar-te e dar a vida só por ti...); Noites Traiçoeiras (...Deus está aqui neste momento, sua presença é real em meu viver, Entregue sua vida, seus problemas, Fale com Deus, ele vai ajudar você, oh, oh, oh...); Olho em Tudo (...Olho em tudo e sempre encontro a ti, estás no céu na terra onde for, em tudo que me acontece encontro teu amor, já não se pode mais deixar de crer no teu amor, É impossível não crer em ti, é impossível não te encontrar, É impossível não fazer de ti meu ideal...)”, entre tantas outras.
No entanto, aquele domingo foi diferente. Como de costume encontramos pessoas conversando, dificilmente com uma Bíblia na mão, posto que não é hábito do católico levar este livro sagrado para a missa, muitos apenas cumprindo uma rotina dominacal e outros verdadeiramente sentido a necessidade em ouvir a Palavra de Deus.
A missa transcorria normalmente, até que antes da comunhão (simbolismo de entrega do Corpo e Sangue de Cristo), como de costume, o padre Peixoto chama as crianças para rezar o “Santo Anjo” e em seguida o “Pai Nosso”. Neste instante algumas crianças rezam ou melhor, demonstram para a plateia que aprenderam a rezar o “Santo Anjo”, até que, entre elas, uma menina de aproximadamente quatro ou cinco anos fica olhando e apontando diretamente para a entrada da Igreja e o padre, seguindo a sequência de brincar com as crianças, pergunta para garotinha para onde ela estava olhando, se era para mamãe ou para o papai, ela então responde: É o Papai do Céu. Alguns olham ou não, porém todos sorrindo pela atitude simples e ingênua daquela criança. Porém, ao dizer isso, a chuva parou rapidamente e um vento forte entrou na Igreja. É interessante que foram segundos, porém como se durassem horas. Foi arrepiante. Uma Paz se instatou no ambiente de forma indescritível. Algo muito bom que deixou a todos estasiados e meio que em câmera lenta. A única que parecia manter a velocidade dos movimentos era a menina, que de um sorriso sem precedentes abria os braços como se fosse dar um abraço em alguém. Ela continuava a dizer: Papai do Céu, Papai do Céu...
O silêncio pairou no ar e a única voz que se ouvia era a da criança, pois nem o barulho dos carros ou da rua do lado de fora era percebido. Um verdadeiro silêncio. A sensação de tranquilidade, de ausência total de pensamento, fez com que muitos fechassem os olhos, como se estivessem sendo massageados no corpo inteiro. Realmente algo fantástico.
Assim que aqueles poucos segundos se passaram, todos meio que se entreolharam, como se perguntassem se realmente aquilo havia ocorrido. Engraçado que aos poucos o som foi voltado como se estivessemos naquele momento saindo de um transe hipnótico, porém onde todos nós sentimos felicidade e paz. O padre que também sentiu os reflexos daquela VISITA inusitada, ficou meio sem saber o que dizer, porém disse, perguntando: filha, como era Papai do Céu? Ela respondeu: oxente e vocês não viram? Ele é lindo e disse que eu sei rezar o Santo Anjo do jeitinho que a mamãe ensinou. Neste instante, alguém começou a rezar o Pai Nosso e todos da Igreja acompnharam a oração ensinada por Jesus.
Todos seguraram as mãos e rezaram a principal oração como nunca foi testemunhada naquela Igreja, pois havia sentimento em cada verbo falado. Interessante que muitos choravam ao recitar. Assim que a oração coletiva se encerrou o padre perguntou para a garotinha se Ele ainda estava alí e ela respondeu (com toda a meiguisse de uma criança e simplicidade que lhe é peculiar): Ele disse que quando fizessem esta pergunta para ela era para dizer que todos deveriam olhar para si mesmo, amar ao outro e adorar ao Nosso Pai.
Muitos não acreditavam no que tinha acontecido. Muitos inclusive não conseguiram se levantar do banco e outros, aparentemente familiares, estavam abraçados como se demonstrassem um grande amor e perdão naquele momento.
Foi fantástico aquele domingo. Para completar, na hora da comunhão foi tocada a música “A Barca” (...Tu, te abeiraste na praia, não buscaste nem sábios nem ricos.
Somente queres que eu te siga, Senhor, Tu me olhaste nos olhos, a sorrir, pronunciaste meu nome, lá na praia, eu larguei o meu barco, junto a Ti, buscarei outro mar...), neste momento muitos na fila choravam ou demonstravam semblantes de alegria ou como se estivessem arrependidos de algo. Uma verdadeira comoção do Bem.
Ao desejar uma boa semana e paz a todos na hora de encerramento da missa, o Padre disse que erámos testemunha de algo extremamente mágico e feliz. Foi quando procurou a criança e esta não mais foi vista na missa, assim todos concluimos que ali foi um anjo que serviu como instrumento de amor e vida para todos nós, que muitas vezes não priorizamos momentos para o Nosso Pai. Fique com Deus.
Alessandro Buarque Couto
Abc_bra@hotmail.com