• INTERPRETAÇÃO ²
É melhor encerrarmos esse assunto. Foi dessa maneira que pude interpretar suas atitudes e silêncio. Incompreensível como alguém pode ir do tudo ao nada, sem ao menos ter uma explicação ou justificativa válida e coerente. Foi como estivesse devolvendo uma mercadoria, algo não mais necessário para você, fiquei atordoado e aturdido, com sua atitude e silêncio, com suas respostas evasivas e diferentemente do que acontecia regularmente, começou a faltar tempo, a não ser mais rotina ter sua companhia. Fiquei triste de verdade, e para quem não imagina, ainda que minha intuição pudesse alertar, minha sensibilidade insistia em justificar a falta de reciprocidade e empatia, de consenso com tudo que havia dito, com tudo que podíamos haver conversado ao longo de nosso encontro. Ainda não pude entender mesmo, quando a distância não era problema, quando os compromissos e rotina não era razão para manter distante, quando o silêncio era um sinal de falta e ausência resolvida com um contato qualquer. Evidências! De repente você acorda e decide não querer mais, não ser suficiente para você, não satisfazer suas expectativas ainda que a principio, seria tudo que queria, que havia sonhado e desejado, que queria encontrar e ser encontrada. De repente você desperta, e decidi que apenas não tocar a alma e o coração era suficiente, que sentir não era mais suficiente para continuar, do tudo ao nada em segundos. Evidências! Cada atitude, ato, silêncio, menosprezar minha sensibilidade, evidenciar minhas falhas e imperfeições de uma forma silenciosa, ainda que tivesse mais motivos para avaliar pelas atitudes e atos, pela escolha que havia feito, por tudo que havia sido realizado. É melhor encerrar esse assunto! Foi assim que percebi e interpretei seu silêncio, as respostas evasivas, as justificativas, para evitar os sentimentos, emoções e sensações, fiquei realmente fragilizado ao descobrir que permitindo uma cumplicidade e intimidade, oferecendo a sensibilidade, sutileza, delicadeza, do cativar, conquistar, cultivar, zelar e cuidar, precisaria ser perfeito. Sim, evidencia, não dita mas sentida. Não seria bastante, valorizar e respeitar, admirar, exercer o bem querer, o cuidado, zelo, promover os sonhos, estar presente mesmo na distância, era preciso encaixar em um conceito ou padrão, não foi bastante, ver além do seu olhar, de seus sorrisos, de reconhecer e sentir a alma e o coração, seria preciso preencher uma velada fórmula inconsciente do amor para vida toda. Evidência! É melhor que para a próxima pessoa você sirva porque para mim, não! Ainda que sinta sua falta, que foi prazeroso, que ainda existe sua presença na minha vida. Não é você! É o que sinto despertado e provocado por você, nada além e não será nada além! Porque você é tudo que quis sentir e viver, mas não é com você! Vamos encerrar esse assunto! Não é você! Ainda que tenha imaginado, desejado e sonhado que seria, de repente encontrou seu fim. No silêncio, na distância diária, na sensação de estar sendo inconveniente e incomodo, de sentir estar procurando por alguém que não quer ser encontrada, que diferentemente do que havia acontecido, parecia quer ficar escondida, sem sentir pressionada em manter um contato ou proximidade, de manter uma cumplicidade e intimidade, aquela mesma sintonia e conexão que alegava sentir, aquela mesma sensação e emoção, de encerrar a rotina diária, presente na vida de alguém. Foi ficando mais fácil interpretar e perceber, sentir de forma dolorosa, de maneira inegável que não era “eu”, no máximo apenas o que sabia fazer você sentir, a confiança e segurança de poder exibir sua nudez mais íntima, aquela nudez rara e valiosa que não revelamos para qualquer pessoa. Assim como eu fazia a cada dia para estar mais próximo de você, e ter você mais próxima de mim. Evidente a vida irá seguir sem mim, é sua escolha, que irei respeitar e compreender, ainda que exista a dúvida, de sua verdadeira justificativa, mesmo com a certeza de que ir do tudo ao nada, e ainda dizer que faz falta, seja incoerente e incompreensível. É melhor encerrarmos esse assunto. Não quero mais! Simples assim. Talvez seja mesmo mais simples, ainda que seja doloroso, ter afastado de mim, ter feito com atitudes e atos interpretar e perceber que não existia um lugar para mim, alguém real, que fazia sentir algo surreal e inexplicável, um sentir imenso e intenso, um sentir de verdade, que ao menos posso imaginar que tenha sentido, quando antes do nada, fazia questão de sentir próximo, e ir ao encontro de ser encontrada. Talvez tenha interpretado e percebido as evidências, tarde demais, após insistir em mendigar um apreço e afeto irreal. Foi uma escolha, agir no silêncio, ao menosprezar e evitar minha presença, ao justificar todos os motivos como fator para rejeitar ao sentir ser amada, ser querida e desejada, a ser o amor de alguém. Porque queremos ser amados pela perfeição, pelo ideal de amor perfeito, ainda que não sejamos capazes de reconhecer, de admitir, de confessar. Queremos um amor que encaixe no padrão de nossa imaginação, um amor dedicado e responsável mas embalado na perfeição, no modelo idealizado e sonhado. Queremos ser o amor de alma e coração de alguém, e amar o coração e alma de alguém, que enquadre e encaixe no padrão visível e real, de que queremos ser amados para sermos vistos e não mais para sermos sentidos, para fazemos sentido e possuir significado na vida de alguém.
• Damien Lockheart ¹