Sono profundo
Quero entrar em um sono profundo, muito profundo.
Tão profundo quanto os oceanos em que não posso respirar, onde não fui feita para viver.
Tão profundo quanto o espaço sideral em que não posso respirar, onde nunca vou estar.
Tão profundo quanto a vida rasa que não foi feita para nela eu estar, em que eu não consigo respirar, e onde eu não deveria estar.
Tão profundo quanto o vazio do meu olhar, dia após dia, tentando cavar na vida um mar de futilidades e delas me ocupar, para não desejar o que desejo todos os dias:
O sono mais profundo, em que eu não mais seria coisa alguma. Em que a consciência não existe. Em que o nada é a única presença, a única coisa real. Porque, de verdade, eu já vivo nesse nada, encoberto de ilusão.
A minha vida não é para ser vivida, é para ser suportada.
A minha realidade não é para estar na consciência, é para ser esquecida.
Cada dia se torna mais difícil esperar o momento em que eu não terei esse nome, nem todas as particularidades que me fazem essa personagem.
Porque não sou nada, não sou ninguém, e como eu queria acreditar que depois da morte não há nada!
Mas parece que pagamos a pena de ser alguém, de sentir, de fazer, mesmo que nada disso faça sentido.
A única coisa que faz sentido em tudo isso é correr atrás da linha de chegada, mas, quanto mais perto dela, mais longe ela parece estar.