Não esquecer.
“O grau de civilização de um povo se mede pelo grau de liberdade da mulher.”
Não nos seria estranho se o filósofo francês Charles Fourier estivesse pensando no Brasil quando disse essa frase.
Apontado entre aqueles com maior índice de feminicídio do mundo, o nosso país escancara desde sempre seu caráter rústico, destruindo diariamente a liberdade de centenas de mulheres, tirando-lhes a vida, subjugando-as, cometendo todos os tipos de assédios e abusos contra elas.
Tal incivilidade, claro, também está representada na classe política e sua grande insuficiência de projetos de leis que visem colocar um fim nessa cruel conjuntura. Em geral, não há interesse em propostas que ao menos sinalizem essa necessidade de mais políticas públicas e despertem maior comprometimento social pela causa.
Mas, e se lançassem, por exemplo, um projeto de lei que criasse uma campanha permanente e mais rigorosa de enfrentamento ao assédio e violência sexual em todos os espaços e transportes públicos?
E se propusessem uma lei que instituísse um programa de amparo às crianças no período noturno atendendo a necessidade de muitas mães que trabalham ou estudam à noite e não tem com quem deixar seus filhos?
E se incluíssem no calendário oficial de cada cidade, em celebração adicional ao Dia da Mulher, o nome de mulheres importantes na história, como da líder quilombola Thereza de Benguela?
Ou criassem um dossiê da mulher que ajudasse na elaboração de políticas públicas direcionadas às mulheres mediante uma efetiva seleção de dados da Saúde, Assistência Social e Direitos Humanos?
Se essas ideias parecem simples, então por que ainda não vigoram em todo o país?
Aqui no Brasil já é comum achar que se uma pessoa levasse esses projetos em frente seria sabotada, receberia críticas, retaliações. E foi o que aconteceu. Precisamos sempre lembrar que essas ideias, aprovadas como leis no Rio de Janeiro, foram propostas da vereadora Marielle Franco, que, mesmo assassinada em 2018, mostra que estava e continua mais viva do que todos os seus opositores.
O fato de existir muitas pessoas que acham repetitivo e inconveniente lembrar dela, a ponto de rasgarem placas de rua com seu nome e se orgulhar disso nas redes sociais, é motivo a mais para sempre colocarmos em evidência essa ativista negra, cujo trabalho, que não estava restrito à assembleia legislativa, é exemplo a ser seguido em todo território nacional.
Quem mandou matá-la? Em uma sociedade onde é comum esquecer rapidamente de atos violentos contra minorias, nunca é demais insistir nessa pergunta, nunca é demais lembrar de Marielle, das pessoas que estavam ao seu lado, e de outras tantas que agora buscam seguir o seu legado, mesmo sofrendo ataques dos incivilizados que obstaculizam o caminho da transformação.
Nas eleições municipais deste ano, nas próximas que virão, nas nossas lutas diárias, é urgente fazer com que as pessoas que ainda estão confusas saibam distinguir entre os que sempre estiveram na linha de frente da luta contra o racismo, por mais igualdade de gênero, pelo fim da pobreza; e os que estão constantemente tentando assassinar essas vozes revolucionárias.