mercúrio

o vento frio adentrava minhas narinas a cada cruzamento enquanto as luzes me cegavam temporariamente.

passos lentos sobre o concreto trepidavam minhas pernas já machucadas, andando lado a lado com a incerteza do hemisfério direito do meu cérebro manter o estoque de palavras que eu gostaria de dizer, rezando pro esquerdo dar cobertura.

meus inquietos elétrons a todo vapor, desejando orbitar o núcleo magnético e inefável que pairava a minha frente.

eu arrepiava com a eletricidade de cada olhar, destroçando os átomos que insistiam em me sustentar como matéria sólida.

minhas células já não eram mais as mesmas. nem os tecidos, muito menos qualquer órgão.

soprei o último trago da noite, bebi a última gota.

beijo agridoce, epiderme quente.

evaporei,

mas virei chuva.