O confeiteiro e o bolos solados
Criar um filho é como preparar um bolo.
Você segue uma receita, a tradicional da família ou outra que você quis experimentar.
Daí escolhe os ingredientes. Dica de ingredientes que fazem seu bolo crescer bem: autonomia, determinação, honestidade, caráter, alegria de viver, respeito, paciência, empatia.
Você mistura os ingredientes e põe o bolo pra crescer até ficar pronto, até que chega a hora do bolo ser servido e provado. E não importa se você sempre se idealizou um ótimo confeiteiro, porque seu bolo não será provado pela sua imagem idealizada do bolo. Quem vai provar seu bolo é a Realidade, é a Vida, é o Mundo, é o Tempo. Muitos pais acham que seus filhos são o bolo idealizado, mas é o mundo quem irá realmente prová-los.
Preparar um filho pro mundo, portanto, não requer muito segredo, mas existem ingredientes que conseguem estragar a receita. E o pior é a Superproteção.
Superproteção é o ingrediente de pais controladores e possessivos, porque são inseguros e temerosos. Vendo o mundo sob um prisma negativo e pessimista, aprisionam os filhos numa gaiola, impedindo-os de voar, tolhendo-lhes todas as decisões. Conhecem pais assim?
E por que este é o pior ingrediente de todos? Porque é o contrário de preparar um filho para o mundo. É justamente despreparar, já que tira deles a autonomia, a independência e a sabedoria. Os filhos viram um bolo solado.
São adultos despreparados, indolentes, mimados, imaturos, temperamentais, irresponsáveis, inconsequentes, autossabotadores, incapacitados, sem perspectiva de futuro, e que reagem aos conflitos e críticas como um ataque pessoal. Por isso têm sérios problemas em concluir o que começam, como um emprego, uma faculdade, uma carreira ou um namoro. Aliás, têm péssimas escolhas amorosas, acabando por se ancorarem em um par igualmente indolente, para não serem cobrados a evoluir. São adultos que nunca definiram sua vocação nem construíram uma carreira, nem realizaram seus sonhos; na verdade, não realizam nada, e, quando tentam algo, por serem incompetentes emocionalmente, fracassam.
Fracassados, só lhes resta desejar o fracasso dos outros. Inferiorizados, só lhes resta inferiorizar os outros para se sentirem, só assim, superiores. Aliás, precisam nutrir um ego fantasiosamente superestimado como forma de escudo para encobrir uma vida vazia. E não é de surpreender que, uma vez que não se harmonizaram com o mundo real, esses adultos se refugiem nas drogas em uma busca desesperada pela única satisfação que lhes resta, uma satisfação virtual, fantasiosa e alucinógena.
E o pior é que, como seus pais nunca deixaram de ser Superprotetores, estes continuarão a passar a mão na cabeça desses adultos infantilizados, o que só contribui para perpetuar que esses filhos nunca aprendam nem atinjam a maturidade. Eles vivem em uma prisão perpétua e nem se dão conta disso. Conhecem filhos assim?
Uma dica para os pais que se sentem tentados a adotar a Superproteção. Se querem proteger, saibam que o que mais protege um filho é prepará-lo para viver no mundo, com autonomia e responsabilidade, e isso se faz ensinando o filho a descobrir sua força interior, é encorajá-lo a vencer seus medos, é estimulá-lo a seguir seus sonhos, com foco e determinação, é ajudá-lo a descobrir sua vocação, é ensiná-lo a conviver com pessoas. É preciso aprender a se machucar e a se curar. Porque os filhos irão se machucar, é inevitável, e precisarão saber como se curar. Irão cair, e precisarão saber se levantar. Irão errar, e precisarão saber como acertar.
Isso faz parte da vida. Nossos filhos irão tropeçar, cair, se ferir física e emocionalmente, irão falhar, sentirão medo, tristeza, raiva, terão crises existenciais. Tem como evitar isso? É claro que não, porque são essas vivências que nos convidam ao amadurecimento, à plenitude.
Nosso papel nessa confeitaria é justamente prepará-los para isso, é ensinar-lhes o caminho, e, para tanto, eles precisarão de boas doses de força interior, encorajamento, paciência, autonomia. Já são esses ótimos ingredientes.
Mão na massa!