Quando me tocas

Um dia acreditei ser aquela pessoa que poderia controlar todos os meus desígnios.

Achei ser a dona de todas as minhas ações e verdades.

Achava que entendia que meus princípios viriam antes de qualquer desejo absurdo e incoeso.

Mas na vida, nenhuma razão é absoluta.

Nem mesmo minha solidão.

Menos ainda minhas próprias verdades.

A verdade é que sou movida pelo instante absurdo que muda todas as minhas expectativas.

E me faz ver, com clareza e evidencia, o quanto sou vulnerável ao toque.

Quando tocada por algo além desta minha capacidade ínfima de ver.

Quando ouvi ele dizer que naquele momento, minha razão estava sendo calada pelo meu desejo.

Me causou tantos calafrios, que a única coisa que soube fazer, foi levantar estender a mão e dizer, vamos para casa.

Mas que casa? O que era aquela reação incalculável, metafórica e intangível?

Daquele dia em diante, prometi nunca mais dizer nunca!

Menos ainda negar meus desejos insanos.

A loucura sempre me acompanhou de maneira bem singular.

Mas naquela noite, ele foi minha maior insanidade.

Me desarmou como um mestre das armas que desmonta sua arma em segundos.

E no segundo seguinte, está pronto a atirar na minha mais segura verdade.

Que verdade?

Seguiu disparando sem cessar fogo, queimando minha sensatez.

Rasgando minha pele, como quem rasga uma carta oficial da verdade.

Que queima, arde e desaparece.

Pronto a fazer sua vontade se tornar um legado de imposição e irreverência.

Neste ser singular e único, encontrei um motivo para deixar a vida me palpar, sem que eu controle os meus próprios passos.

Me senti como uma bala perdida no escuro, que só se tem a certeza de que acertou o alvo, porque dilacerou meu ponto mais forte.

Desarmou minha realidade, com a habilidade e sutileza de quem desarma uma bomba prestes a explodir.

E eu explodi! A ponto de não sobrar mais nenhuma convicção.

Arriscando-se como em um campo de batalha,

Um duelo de egos gigantes e dominadores

E nesta luta de desejos absurdos e injulgáveis

Fizemos tudo que se faz em uma guerra.

Matamos as verdades, sangramos os desejos, fuzilamos um ao outro só com o olhar,

Nos calamos, como quem cala um inimigo a ferro e fogo.

Ao fim, enterramos os conceitos e colocamos uma lápide em cima de cada atributo.

Para que o tempo passe, e no vão das nossas memórias, se eternize apenas um:

“Aqui jaz todas as razões que não foram feitas para serem entendidas”

2020.02.04

Tinna Mara de Camargo
Enviado por Tinna Mara de Camargo em 06/08/2020
Reeditado em 09/08/2020
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