Amigos
Eu só queria que fossemos amigos..
E não apenas dois corpos..
Mas pude perceber que não existia nada além disso..
Daquelas coisas que nos tiram um sorriso..
Mas nos arrancam a alegria..
Incrível como num passe de mágica, a vida ficou possível..
O tempo ficou mais frouxo.. e o dinheiro não é mais um problema..
Pude perceber que agora, nesse filme repetido, daqueles que no fim a gente chora.. que era comigo, apesar de todo tempo perdido.. que nada era possível ou valia a pena..
O que antes era impossível.. e o tempo era corrido, e nada colaborava.. mudou como um passe de mágica..
Pude então perceber que a companhia, que "tão boa" ele me dizia.. era quando não tinha nada..
E enquanto a vida estava boa e o dia estava lindo.. ele sequer se lembrava..
Um escape do tédio, um momento médio.. era o que me restava..
Eu queria que fossemos amigos.. mas quanto mais eu corria o risco.. mas ele me afastava..
Estava lúcida finalmente, e mesmo que indiferente.. aquilo me machucava..
Ah, porque eu me mantive ali, onde já não me queriam.. com tanto lugar pra ir.. eu quis ficar onde me feriam..
E agora do lado de fora, pude me ver lá dentro.. tão pequena, tão serena, a beira do sofrimento..
Me resgatei daquele suicídio vivo.. de me sentir tão insuficiente..
Quando sou um turbilhão de gente.. quando eu sou mais, muito mais que apenas um corpo quente.. mais do que me faça pensar..
Eu sou tanto, pra tanta gente.. pras quais escolhi ser presente..
Enquanto quem me faz ausente, finge ou não se importar..
Eu só queria que fossemos amigos..
Daqueles que se amam muito.. pra quando os corpos se esfriassem.. o sentimento não fosse junto..
Amigos que se respeitam, consideram e se divertem..
Amigos que se preocupam, um com outro e se conhecem..
Eu só queria um bom amigo, mas agora já não consigo.. nem sequer querer mais nada..
E levo embora comigo, o ego um tanto ferido, um coração vazio e a memória apagada.