(Diferente) Frio de Sempre
Você decidiu se concentrar em você
E esquecer ela.
Você decidiu isso já faz um tempo.
Você se convenceu disso com certa facilidade também.
O que aconteceu, aconteceu.
Era passado. E passado não se muda.
O que me esperava? O futuro.
Esse eu podia moldar. Construir.
Fazer diferente do que aquilo que já passou tinha sido.
Mas hoje, me bateu um frio.
Veio direto a mim como uma bola de neve invisível e me gelou dos pés a cabeça.
Eu engoli seco. E caminhei sem direção olhando para o chão que se movia.
Não, eu não havia bebido nada. Foi aquele frio.
Aquele frio que vem me gelando desde os dias de verão.
Não houve um único dia que eu não houvesse sentido aquele frio.
Não desde que ela se foi.
Mas quando eu jurei esquecê-la e concentrar-me em mim
Eu passei a ignorar esse frio.
Ele vinha. Nunca deixava de vir.
Mas eu tinha jurado. Ele não estava ali. Não podia estar.
Mas hoje ele veio e não só me fez senti-lo.
Ele tomou conta de mim. Entrou em mim.
Contou-me segredos que eu já sabia, mas ignorava.
Ele rodeou a minha volta, me fez andar com ele.
Fomos passear.
Conversamos. Rimos. Choramos. Relembramos.
Agora ele foi descansar, mas continua aqui.
E agora? O faço eu?
Fingir que aquilo com que eu conversei, ri, chorei, não existe?
Ele está aqui. Sempre esteve. Uns dias mais ‘raivoso’.Outros até ‘calmo’.
Até quando ele ficará? Não sei. Acho que não importa mais.
Talvez, só talvez, ele tenha virado até meu amigo.
Mas que desgraça, se isso for.
Porque, uma coisa ele é. Verdadeiro. Verdadeiro até demais.
E, isso, para meu desgosto, é o pior que ele poderia ser para mim.