Andar de bicicleta e a infância
Há pelo menos uns 10 anos eu não caía, pelo menos não um desses tombos homéricos que a gente protagoniza na infância, do alto de um pé de manga ( O último eu tinha tirado as mangas em novembro para jogar no estilingue , meu falecido vô EUZÉBIO fez foguinho na minha cabeça) ou em um racha de rolimã,( onde quebrei meus dois dentes da frente mas continuei cantando MENUDOS) .
Bom, há muito tempo eu não andava de bicicleta também e, hoje pela manhã, essa me pareceu uma boa ideia. Fui. Fiz o percurso um tanto ofegante devido aos anos impraticados, mas cheguei bem. Porém na volta começa uma garoa mas eu continuei.
A chuva começou a apertar e as pessoas correm sem olhar para os lados e o asfalto molhado não respeita a aderência e a aerodinâmica dos pneus.
Então foram alguns metros para cima, um giro no ar e eu no chão.
Quase que instantaneamente o sangue quente bebeu a agua da chuva e escorreu.
Levantei, me certifiquei de que tudo corria bem ( olhei para o lado e graças a Deus não escutei , VOCÊ CAIU ?! 😡) , subi outra vez na bike e pensei. Isso não vai ser bom quando esfriar.
Já em casa no banheiro, tirei a roupa, prendi a respiração e liguei o chuveiro. Para minha surpresa não ardeu.(Para quem quando caia passava merthiolate , não foi nada )
Quer dizer, até ardeu, não vou dizer que não senti a pele lambida pelo asfalto reagir ao toque da agua fria, mas a memória emotiva que eu trazia dos meus dias de criança, a coisa parecia muito pior.
Acontece que a gente cresce, ama, faz mil planos, quebra a cara e se decepciona. Isso tudo leva a gente várias vezes para a cama e dói durante semanas e semanas. Parte a alma e a gente tem que seguir em frente até cicatrizar.
Daí quando a gente sai para andar de bicicleta em um dia qualquer e resolve desafiar a física, você se dá conta de que andou suportando coisa muito pior, e que aquele buraco aberto no joelho tem mais gosto de nostalgia que das feridas que a gente aprendeu a tratar.
Cair de bicicleta e ralar o joelho me levou à infância por algumas horas
Amanhã farei um rolemã 😏
(ALMIR PRADO)