Mais um dia no ano
Querido diário...
Definitivamente me tornei uma ótima atriz. Tanto que tenho pensado muito em fazer teatro, escrever roteiros, desenhar, viver da arte... a arte da doce ilusão que é a Arte. Meu torpor favorito. O único que transcende e me faz doer de mentira.
Não vejo os loucos abandonados nas ruas como ameaças. Os trato com cordialidade, até com um pouco de medo na voz. Os trato melhor do que uma pessoa que tem casa e carteira de couro falso.
Eles são mais puros e mais sinceros que todos nós. Se desnudam literalmente para gritar o quanto essa raça, a nossa raça é vil e repugnante.
Meu humor está mais estremecido e volátil que o clima do Rio de Janeiro.
Hoje senti as veias doerem, quis me matar. Senti elas engordarem no meu braço pedindo para serem furadas. Brincando de enfermeira e eutanásia.
Hoje não tive medo de nada. Quase me fui. 21 anos em cima desses pés tão cansados.
A voz baixa que se expressa pra dentro.
Gritando que preciso sair daqui. Mas ir para onde?!