O desespero da esperança
Há uma magia intrínseca em esperar cartas que sabemos que nunca chegarão. É como ir dormir todas as noites deixando propositalmente a porta aberta. Há uma linha tênue entre o desespero e a esperança, e nela me equilibro entre o vazio e o fato. Passo dado não volta, mas deixa pegadas como migalhas guiam o rato a ratoeira. Deixar a porta aberta é uma faca de dois gumes: ou entra quem queres ou quem entra pode até ter uma faca.
Então eis a questão, covardia ou coragem?
Característica intrínseca na alma de quem de tão machucado não teme mais a dor nem o sabor do próprio sangue na boca. Sangue que como rio tem suas correntes, sangra e irriga o corpo ao qual essa alma não mais reconhece. E como reconheceria? O que havia de bom em mim essa magia me tirou, levou, apartou de forma definitiva e irreparável.
Tua boca meu desejo, teus olhos são espelho retrovisor que me mostram que o imperfeito não pertence ao passado e vivo a preterir em busca da perfeição, beleza eterna. O amor como definição.