Ódio (parte 1).

Eu odeio meu corpo, odeio meu rosto, odeio meu cabelo. Odeio minha personalidade fluída que depende do lugar e pessoas que estou interagindo. Odeio as inconstâncias, inconsistências, imprudências, impulsividades e intensidades que sou. Odeio ser abandonada, odeio me sentir assim, mas odeio mais ainda abandonar à mim mesma antes de todo mundo. Odeio ter que levantar meus muros, tijolo por tijolo, depois de já ter criado uma sala especial só pra aquela pessoa, dentro do meu castelo (ou coração). Odeio me apegar às pessoas e esquecer o quanto todo mundo é passageiro, mas não pra mim, todos ficam em mim, até eu guardar num potinho, e esconder em algum lugar, pra me lembrar de vez em quando (e talvez chorar de saudades). Odeio minha compulsão alimentar, o tal do "comer pra preencher vazios". Odeio meus vazios. Odeio mais ainda pensar que quando eu me cortava (e não comia), eu estava melhor, eu era mais bonita. Odeio os dias ruins. Odeio mais ainda os dias bons; os dias em que me acho bonita, tiro fotos, me elogio, me aceito, me amo; odeio porque eles não duram quase nada e é fácil esquecê-los. Odeio o meu tudo ou nada, 8 ou 800, ao infinito e além, ou ao pó retornaremos. Odeio me odiar. Odeio não saber dizer não pras pessoas. Odeio não saber me impor. Odeio ter sempre esse medo idiota de ninguém gostar de mim. Odeio fingir ser o que os outros querem, pra ser amada, querida. Odeio fazer isso, todo esse esforço, pra no fim, ou eu fazer algo que a pessoa não gostou e ser deixada de lado, ou simplesmente não ser o suficiente. Odeio ser incompreendida. Odeio ser um incômodo, então eu sumo. Odeio sumir, porque sou fácil de se esquecer. Odeio me abrir com pessoas novas, contar meu abecedário inteiro, e depois me arrepender disso. Odeio ter 22 anos e me arrepender de quase tudo na minha vida. Odeio reclamar, e reclamar, e reclamar, e nunca fazer nada pra mudar ou sair do lugar. Odeio mudar e fazer as coisas, e ainda me sentir insatisfeita. Odeio me cobrar insanamente. Odeio o sentimento de não me encaixar em lugar algum, e odeio mais ainda o esforço patético que faço pra poder me encaixar. Odeio coisas demais pra alguém da minha idade, e eu odeio isso.