ABRA, NÃO TEM CADABRA
Era uma vez um reino cujo rei guardava a sete chaves em seu castelo um livro o qual fora escrito por um mago muito poderoso muitos anos antes, e era muito temido por ser conhecido como um grande livro de magia e acreditavam que quem o lesse iria adquirir os poderes do mago e poderia se tornar um grande perigo para o reino.
Um certo dia, um dos servos que era encarregado de proteger a sala onde ficava o livro decidiu roubá-lo e fugir com ele. Assim que o rei soube, ficou desesperado e ordenou que seus melhores soldados fossem atrás do servo ladrão para capturá-lo e trazer o livro de volta.
Os soldados foram e, com sucesso, conseguiram capturar o gatuno escondido em uma cabana na floresta e pegar dele o livro de volta. Assim que chegaram ao centro da cidade, todos ficaram felizes com a missão cumprida, mas ao mesmo tempo bem apreensivos, afinal, já tinha passado tempo o suficiente para que o servo lesse o livro e tivesse adquirido poderes mágicos e assim já seria uma ameaça. Então o rei veio e interrogou o ladrão:
- Você leu o livro?
- Sim, meu senhor, eu li - respondeu ele.
Todos já ficaram amedrontados. Então o rei continuou:
- Agora que leu, sei que não adianta eu te condenar, pois poderá facilmente escapar e nos destruir. Decido então que continuará sendo meu servo e serás promovido a feiticeiro da corte. Poderia então agora mesmo começar e fazer o que aprendeu de melhor após a leitura?
- Sim, senhor - respondeu o servo promovido.
Então ele pediu água quente, misturou com umas plantas aromáticas e deu ao rei para beber. Após o rei tomar, ficou curioso e perguntou ao servo:
- Esta poção é muito boa. Mas e aí? Cadê o feitiço?
Então o servo respondeu:
- Majestade, na verdade, o que o livro ensina é apenas medicina natural. O "feitiço" sentirás daqui a pouco se sentindo mais calmo depois de ter ficado tão nervoso, já que se trata de um chá calmante.
Moral da história: não existe livros "mágicos".
Bom, antes de mais nada, quero ressaltar que não estou querendo falar aqui acerca da veracidade e funcionalidade do conteúdo dos livros sagrados das mais variadas religiões, de conjurações ou dos polêmicos grimórios, isso vai da crença de cada um, e por isso coloquei as aspas. Mas o que quero passar é sobre um suposto "encanto" que tanta gente tem pavor.
Boa parte das pessoas creem que certos livros não podem jamais serem lidos muitas vezes apenas pelo fato delas discordarem do que nele está escrito e, pior, acreditam que a simples leitura da obra pode "enfeitiçá-las" como num toque de abracadabra. Isto é, por não concordarem com aquela ideia e/ou seu autor, evitam até tocar na obra, o que é de uma ignorância absurda!
Em primeiro, é preciso saber que, por mais que discordamos de algo ou alguém, é fundamental conhecê-lo justamente para que tenhamos conhecimento daquilo o qual nos opomos, estudar e poder defender melhor ainda o nosso lado para termos ainda mais credibilidade. Por exemplo, é comum ver ateus convictos que nunca sequer leram um único versículo da bíblia, ou se leu, pegou trechos soltos e nada compreendeu. Ou ainda defensores árduos de uma determinada ideologia que nunca leram um só parágrafo de autores críticos ao que eles defendem.
Em segundo, ao ler certo livro, por mais influente que ele possa ser, se você não for uma pessoa influenciável, de mente fraca, não deve temer ser seduzido por ele e acabar indo para o outro lado da força. Lembre-se que feitiço só pega em quem acredita.
Portanto, não se preocupe, se tem curiosidade, pode ler sem nenhum receio, como também será ainda melhor para você mesmo conhecer o ponto de vista do outro. Abra, pois não tem cadabra.