despertar – Ato I

feitiçaria

de repente eu me desloco.

que acidentalmente escapou.

eu piso um epítome,

alguma coisa à mim, secretamente ofertada.

pintura rupestre.

a gestação de deuses.

fábula das civilizações.

o vale da sombra da morte.

todo o conteúdo do mundo me planeja.

inominável era meu estado.

de repente eu sou!

paralelo a minha carne.

indiferente ao seio que a alimenta.

feição que me constrange.

sua luta é uma prisão.

seu amor é um diabete

e ela foge pra ele.

minha carne arraigada e convicta

no anúncio de emprego, de greve.

firme e viciada no orgasmo, no ideário,

nas horas eleitas.

de repente estou suspenso - simples flutuar!

nubívago, eu possuo nuances.

uns poucos me acenam com suas sutilezas,

emancipados de dentes de besta e mamas de messalinas.

de repente eu sou um operário

que não deu certo no duro concreto do seu corpo.

e virei verme.

e virei luz.