Suicídio - Um olhar necessário
O suicídio, pouco discutido na sociedade, tratado como um tabu, algo rigorosamente ocultado, tem alarmado os órgãos de saúde e chamado a atenção de profissionais como psicólogos, no entanto “chamar a atenção” não tem sido o bastante, todos quanto sociedade precisamos de conhecimento e conscientização.
A começar, devemos refletir sobre as causas que levam alguém a tirar a própria vida, um ato violento que vai contra a natureza que a biologia tanto explora: possuímos instintos de sobrevivência. Como enfatizado, são “as causas” e não apenas um motivo, muito menos algo devido ao acaso Na visão da Psicologia Humanista, a falta de sentido na vida e o vazio existencial resultante dessa falta e que envolve tanta gente, sendo essas as maiores motivações, tornam o sofrimento maior do que ele de fato é, tiram a perspectiva dos sujeitos e os levam a um caminho de sombras, desesperança e destruição.
A dor causada por esse vazio existencial é profunda e amarga, pode justificar o fato de pessoas aparentemente bem-sucedidas sucumbirem a quadros de depressão e não conseguirem refúgio. Alguns, entendidos quanto ao significado que dão a experiência do viver, enfrentam o sofrimento como aprendizado, seguem o pensamento de Viktor Frankl e o tomam como meio para o triunfo pessoal, outros, porém, deficientes de sentido para o aqui estar, desvalidam a vida e enxergam na morte a maneira última para que consigam se aliviar das angústias.
É preciso percebermos que o suicídio não acontece de repente, ninguém acorda em uma manhã qualquer e resolve que ferir a si próprio é um bom negócio, ao contrário, os sinais são dados, verbalizados ou gesticulados, o problema é que os diferentes contextos sociais não percebem ou desprezam esses sinais, banalizam a dor do outro, não exercem o olhar empático recomendado por Rogers. A família, por exemplo, desconhecendo a realidade do familiar e desconsiderando suas dificuldades, o rotula como um louco que não tem o que fazer ou pensar; a organização religiosa, por sua vez, diante de um potencial suicida, invoca os rituais de expulsão dos espíritos malignos e ainda garante o sentimento de culpa àquele que, já sufocado por dores cruéis, recebe mais um fardo a carregar. Aí está a participação da sociedade na incidência de tantos suicídios. Essa falta de sensibilidade muitas das vezes empurra as pessoas para os buracos que estão cavando, contextos que teriam um papel crucial para que ajudassem os indivíduos no preenchimento do vazio que as incomoda, ignoram suas responsabilidades, no ditado popular, “lavam as mãos” por ignorância.
Muitos, exaustos pelo tormento que todos os dias carregam pelas ruas e avenidas, cansados pelas perguntas não respondidas, procuram desesperados se isolar de suas dores, buscam impacientes libertarem-se das condições opressoras sob as quais sobrevivem, passam a adotar posturas rígidas e terminam privadas do crescimento, da possibilidade de alcançarem um significado para a própria existência. Por isso, mais do que hospitalizações e medicalizações (o que já é importante), aqueles que anseiam pelo alívio de suas amarguras e só o percebem na morte, precisam de ajuda para que olhem em seu interior, aprendam a se conhecer, descubram-se como singulares e tenham acesso a novas perspectivas através desse autoconhecimento, a novos sentidos que façam o viver valer à pena.
(Texto de @Amilton.Jnior)