Olhos Negros

Eu os vejo, vindo de encontro ao meu rosto.

Cada fração de tempo que passa eu os enxergo mais perto. Não sei quanto tempo faz que isso começou, mas pela lógica só podem fazer poucos segundos,  incoerentemente com a sensação, onde aparento estar aqui há um tempão.

Aquela grande escuridão se aproxima de mim e à medida que ela cresce eu penso sobre tudo que aconteceu na minha vida.

Esse enorme efeito dominó que me trouxe até aqui, até agora. É sempre uma boa reflexão a ser feita. O que te trouxe ao presente? Quais foram os fatos, as pessoas, os sentimentos?

A escuridão cresce e se faz presente. Fitando-a daqui eu penso sobre a força esmagadora que ela exercerá sobre meu corpo. Sei que minhas chances de sair vivo dessa são nulas. Afinal, pudera eu esperar sobreviver agora. Não faz sentido.

Está perto, é o meu fim. Foi bom recordar todos esses momentos como um longo filme de vinte e poucos anos de duração. Pra ser bem honesto, alguns desses momentos chegaram a me emocionar e me arrepender de estar onde estou. Mas não adianta, não existe mais nada que eu possa fazer. Só um milagre mudaria minha situação.

São quase três da manhã e é gigante a escuridão da rua, especialmente aqui da parte externa de meu prédio. A única coisa mais escura que a própria noite nesse momento são os olhos negros do asfalto que no próximo segundo tocarão meu rosto e me reduzirão a uma lembrança. Com sorte, um legado.

Pensando bem, depois desse tempão caindo, eu quase que não me lembro o motivo que me fez mergulhar do nono andar. Sim, agora ele parece meio vago e pequeno perto de tantas lembranças que me vieram a mente.

Inclusiv...

Marco de Souza
Enviado por Marco de Souza em 21/06/2020
Reeditado em 23/06/2020
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