Covid-19 e os indígenas

A população indígena é, infelizmente, mais uma parte dos milhões de brasileiros que são relegados pelo Estado. É uma parte da população que enfrenta os maiores obstáculos e perdas de seus familiares desde a então “colonização”.

Na chegada dos portugueses ao então Brasil, estes viram aos brasileiros verdadeiros como animais, canibais, desumanos, mão de obra... Muitos resistiram, se mataram, para não se submeter a tal desumanidade daquele momento, e hoje histórico.

Nos primeiros anos de invasão ao território indígena, as pessoas foram submetidas a situações subumanas e dizimadas por enfermidades trazidas pelos europeus. Os indígenas já estiveram em contextos de grande decesso de sua gente, o que acarretou em perdas simbólicas, posto que nas maiorias dos contextos de dizimação as pessoas mais frágeis estão mais sujeitas a ela, e geralmente essas pessoas são as que carregam um conhecimento cultural e simbólico muito grande, como os idosos.

Nos dias tão pavorosos de 2020, mais uma vez os indígenas se encontram diante de uma situação que pode levá-los à morte, resultante de anos de falta de políticas, e descaso, públicas adequadas na atenção de suas peculiaridades.

Com essa pandemia, percebe-se mais uma vez como as autoridades atuam com descaso na gestão dos problemas que afetam à população indígena e à em geral.

Muitas aldeias estão tendo casos da covid-19, uma de várias outras doenças que foram transmitidas por pessoas forasteiras, invasoras. Grileiros, garimpeiros, seringueiros, etc., é a novíssima era dos “colonos”, porém, abrasileirados.

O vírus tem circulado devido às pessoas que fazem “passeios” pelas terras indígenas, contaminando uma população tão frágil devido a seu contexto histórico de vivência interiorana, onde seus cuidados pessoais se baseiam na medicina de uma faculdade simbólica e cultural, em que o acesso à medicina moderna ainda é um pouco desconfiada.

A pandemia que vivemos hoje é mais prejudicial aos idosos, pessoas estas responsáveis por transmitir os conhecimentos da comunidade e os valores simbólicos. Com isto, mais uma vez nos vemos diante de uma possibilidade de perdas culturais, posto que os idosos não teriam tempo de repassar valores os quais eram os responsáveis por transmitir aos demais das aldeias indígenas. Assim, haverá novamente uma extinção de valores – como na colonização -, o que reconfigurará toda uma comunidade.

O governo, obviamente, é corresponsável de tal acontecimento, posto que não criou políticas de atenção práticas para atender essa população. Além disto, permitiram – embora teoricamente tenha criado leis de proteção – que as sociedades indígenas fossem invadidas por pessoas ambiciosas por dinheiro, estes responsáveis por, em muitos casos, levarem as doenças.

Além disto, esqueceu – assim como a milhões de outros brasileiros – de levar água potável às populações indígenas. Em tempos como este que vivemos, água potável é o ideal para que possamos, pelo menos, nos higienizar, já que não temos vacina. Porém, nas aldeias isso é quase uma utopia – ou talvez, é?

E outra, o vírus ao chegar às aldeias tem uma disseminação muito mais rápida, porque são pessoas que têm uma vida comunitária, dividem objetos, ritos em grupo, vivem em grande número em uma só maloca, etc. Por isso é importante que o Estado aja imediatamente na prevenção dessa população, porque estão mais propícios às doenças respiratórias e elas são mais letais a eles, dado que tem um estilo de vida diferente dos demais brasileiros, em se tratando dos cuidados pré- natal, vacinações para criação de anticorpos, entre outros aspectos.

Neste momento de pandemia, acredito que problemas psicológicos têm afetado bastante os indígenas, tendo em vista que são indivíduos praticantes de ritos em coletividade e de grande contato entre si. E diante do contexto em que vivemos, essas práticas se tornam inviáveis e o sentimento psicossocial deles fica muito afetado.

MATEUS BARROS
Enviado por MATEUS BARROS em 19/06/2020
Reeditado em 19/06/2020
Código do texto: T6982149
Classificação de conteúdo: seguro