13 fev 2020

Você conheceu muitos mortos ambulantes... mas olhe pra você. Ainda continua de pé. Escapulas encaixadas e pernas sinuosas. Brilhando em vida. Ardendo de desejos, vontades e anseios. Como uma equilibrista em saltos plataforma, desfila majestosamente pelas calçadas de pedrinhas. Bolhas nos dedos mas você sorri, pois sabe que são esses os passos que farão a sua história.

Histórias que não estarão em livros. Ninguém saberá. Segredo seu. Nem mesmo será da sua família. Não passará em nenhum jornal, não será publicado em nenhum livro. Mas é o seu best-seller, com capítulos cada vez mais surpreendentes. Cada dia é uma crônica. Sua história é memorável e nem estará no seu epitáfio. Mas não tem problema. Você é grata por todos que compareceram nela, que também guardam segredo.

Suas amigas te acham louca mas elas não sabem nem a metade.

Você sabe do seu tamanho.

Dizem que você é alta. Eles estão certos. Em alguns lugares, você não passa nem da porta. Uma bela desajustada e incomodada por natureza - que benção!.

Seu ouvido é treinado. Você entende três idiomas mas algumas bocas balbuciam coisas que você nunca se identifica. Mas você aceita e recua. Humilde, sempre. Mas nunca pequena.

Já te chamaram de burra, atrapalhada, irresponsável e instável. Hoje você sabe do seu enorme bom gosto e de sua impaciência com coisas que não vão te valorizar.

Não é questão de não poder; é poder selecionar.

. Escrito por VALVERDE, Laura.

na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana - Rio de Janeiro.