Um sopro
Todos os dias te via passar, sabia as horas das idas e vindas, e eu sempre atenta corria para a porta para de longe te ver na rua passar, ele sempre com sorriso no rosto de longe estava a me observar, eu retribuía outro sorriso meio que sem graça eu dava, isso por muitos anos aconteceu, até que um dia resolveu parar, me perguntou como estava, eu sorri e disse que estava bem, não conversamos muito, mas meu coração se encheu de alegria, e logo se despediu e seguiu sua rotina do dia-a-dia, em vários momentos havia aqueles encontros inesperados, na igreja quando eu estava cantando e ele sempre de longe novamente a me observar, mas desta vez com ouvidos bem atentos para me ouvir cantar, os natais quando na casa de sua mãe eu ia, era sempre uma surpresa quando eu chegava, alegria por toda parte, sempre tão atencioso e preocupado se eu estava me sentindo bem, perguntava se algo eu queria, todos os anos eram assim, mas em um deles fiquei chateada e com ele me revoltei, estava magoada, falei o que não devia e logo me afastei, mas não demorou muito, me arrependi, e mesmo não falando nada nos dias eram sempre a mesma coisa admirando de longe, sorrisos por todos os cantos, em todos os natais em família eu ia, até que um deles eu não pude ir, pois queria me desculpar pelo outro ano que indelicada fui, fiquei sem transporte, era longe não tive como sair, triste fiquei, mas nunca pensei, que aquele ano seria o último que eu o veria.
É pai a vida é um sopro, não ficamos muito tempo juntos, mas eu sempre te observava, mesmo que de longe o meu sorriso de todos os dias era um jeito de dizer que te amava, parecem poucos momentos, mas todos eu gravei, a primeira vez que me levou na padaria, as vezes que nos encontramos na igreja, a caminho da igreja, a carona que um dia me deu, os natais, todos os dias eu te via e nada dizia, tive a oportunidade de dizer e não disse, não esperava um adeus tão cedo, e não sabia que o momento de dizer te amo seria tão tarde.
Saudade pai