Isolamento Virtual
Talvez o leitor já esteja cansado nessa quarentena de textos reflexivos sobre como o distanciamento social tem nos ensinado coisas importantes. E que as consequências do corona vírus irá nos ensinar a sermos mais humanos, termos empatia e entre outras coisas que estão quase virando clichê nas narrativas de coluna de jornal e post em redes sociais. Mas eu devo insistir no tema, no entanto não tenho total certeza se as consequências do corona vírus irão melhorar o caráter de todos. Portanto prefiro investir na reflexão comparativa à cerca de nossas relações sociais, do antes e depois do isolamento social.
Como o distanciamento social mudou nossas relações sociais? Todos nós, ou estamos passando ou acabamos de passar, por um isolamento social extremo, isso significa que não podemos visitar aqueles amigos e parentes, juntar a turma para conversar e tomar uma bebida após o expediente. Nem ao menos podemos visitarmos nossos avós, pois eles estão no grupo de risco. O isolamento social também significa a proibição de passeios em parques, praças e praias. O fato é que muita gente passou a se falar apenas pelo celular, via Whatzapp ou faceboock. A saudade e as lembranças de bons momentos juntos ficaram mais frequentes no pensamento de todos nós. Mas o que não pensamos é que muitas vezes essas oportunidades não eram tão bem disfrutadas. Talvez ainda não havíamos nos perguntado se aquele passeio ao ar livre, em praças e parques eram apreciados de maneira plena. Ou se aquela reunião com amigos ou aquelas visitas à familiares eram bem aproveitadas, com muita conversa, muita interação. O maior vilão de interromper tais momentos são os mesmos que hoje são responsáveis por ainda mantermos algum contato em plena quarentena com aqueles que amamos, a internet e os smartphones. Se são graças a esses inventos tecnológicos que hoje em isolamento social conseguimos manter o contato com nossos familiares e amigos, também eram eles que impediam de aproveitarmos as oportunidades de estarmos juntos de corpo presente e apreciar os momentos de forma plena!
Não é de hoje que nossa geração dos smartphones poderosos, a geração da tecnologia, passa a repensar o efeito desses instrumentos em nossas relações sociais. A cena de um jantar em família em que metade da mesa está confinada em seu mundo virtual se contrasta com a mesa de jantar com muita interação de épocas passadas. Essa cena de pessoas conectadas ao mundo virtual e distantes da realidade social é intrigante. Conversar com uma pessoa na qual você percebe que não está escutando uma única palavra dita, mas com muito esforço fingi estar na conversa, quem não ficou irritado com um monologo a mesa de jantar? Quem não ficou desapontado com uma conversa em que seu interlocutor passa o tempo todo teclando com uma outra pessoa? E apenas acenando a cabeça positivamente para você, como se fosse um sinal que significa: -eu pareço não estar te escutando, mas estou... Eu fico imaginando situações ainda piores, duas pessoas juntas teclando com outras pelo WhatsApp, curtindo stories e post nas redes sociais, e nem ao menos trocam uma palavra entre si. A quem diga que a tecnologia afasta as pessoas, geralmente quem fala é aquela pessoa mais velha da família na qual não se familiarizou com a tecnologia ainda, e nós ao escutarmos pensamos sempre: - você ainda não descobriu o facebook por isso fala mal! Mas enfim ela afasta ou não? O fato é que não podemos demonizar o mundo virtual, pois como já mencionei o mesmo que afasta, em tempos de quarentena aproxima.
Talvez realmente este isolamento tem nos ensinado que já estávamos isolados de uma certa maneira. Nossas relações sociais estão bastante confusas, estamos em um lugar com uma pessoa, mas interagimos com outras de outro lugar, ao final aonde queremos estar? Com quem queremos estar? Não interagimos com aqueles que estão em nossa presença, queremos sempre estar conectados ao mundo virtual, mas não nos conectamos a nossa realidade material. As assombrosas confusões de uma realidade social em que nós não sabemos mediar nossas práticas com uma tecnologia que nós mesmo desenvolvemos. Acredito que isso signifique uma questão de saber o que de fato queremos e podemos fazer com o mundo virtual, e o que queremos e precisamos em nossa vida em sociedade.
Will Robson. 16 de junho de 2020. À 01h 08.