Não te amo menos porque te deixei ir. Apenas tentei fechar os olhos por alguns instantes e me colocar em seu lugar.
Minhas lágrimas são quentes, derramadas no silêncio do meu quarto, quando me pergunto baixinho por que você foi embora, então eu penso, nesse estado quase meditativo, em quantas vezes você chorou e ninguém viu, quando seu peito pesou e tantas dores você suportou adornando um sorriso para dar a impressão de que em seu mundo tudo transcorria na maior naturalidade e eu não pude te confortar porque por mais que quisesse ser um anjo para te proteger de todo mal que tentassem fazer contra você, eu também sou humana e tenho minhas lutas interiores.
Eu me sentia mais forte quando você estava por perto e agora compreendo que não é hora de esmorecer, retroceder porque de fato não compete a mim. Eu só preciso respirar fundo e dizer em voz alta, que seja o tal do cumprir chorando o que se prometeu sorrindo que te amo o suficiente para te apoiar e entender que um ciclo se fechou, um ciclo que teve seu valor, sua importância, que foi seu professor e me ensinou muito também.
Eu te amo tanto mais do que da última vez em que vi você. Atrevo-me a dizer que te amo ainda mais porque tenho longas horas para discorrer dos fatos e alterno-me entre a tristeza na sua nuance mais profunda e a gratidão. Penso que minha vida teria sido mais triste sem você nela, sem ter sequer a lembrança, a lembrança daquela passagem que me fez acordar para encontrar o caminho até mim mesma.
Você me lembrou de que por muitos anos eu vivi uma mentira, não a bel prazer, o medo me guiava. Eu tinha medo de ser eu, sentia sempre como se opinar me transformasse numa pessoa horrível, expor o meu ponto de vista era algo ofensivo e tantos sonhos eu adiei ou enterrei pela falta de coragem. E pior do que tomar as rédeas da própria vida para alçar voos mais altos é simplesmente cruzar os braços e inventar desculpas, sentir que você não está feliz no lugar onde está e adia seus planos sempre pensando em quem não pensaria duas vezes antes de te magoar.
Não foi um adeus, não foi um ponto final. Reticências não são pontos finais, são finais de página, mas basta virar o verso e pensar num bom título para o capítulo seguinte. Não te amo menos porque hoje eu ainda não chorei. Eu te amo o suficiente para sair da cama e lutar também pela parte que me toca, aquele espaço que por tanto tempo me esqueci, como se me sentir merecedora dele me tornasse soberba, arrogante, como se reconhecer meu talento me tornasse antipática ou inalcançável, quando não é por aí.
Eu continuaria escrevendo se não tivesse nenhum leitor porque o que me move não são os números, é a sensação de externar em palavras uma ínfima noção do burburinho que transcorre em minha mente.
E eu sou grata, grata sim, por tudo, por tudo que a vida poderia me negar, mas me concedeu por tempo suficiente para eu guardar, para eu aprender aquilo que hoje posso discernir e compartilhar, praticar. E ainda há muito a aprender, a imperfeição me parece atraente sob esse viés, eu tenho o que aprimorar, minha missão não acabou, não sei em que ponto exato me encontro do meu propósito, mas sei que não há tempo a perder.
E se eu chorar, tudo bem também, são sentimentos que se externam, as lágrimas não se calam, não se rendem, e eu sei, eu sei que vou superar isso, passei por momentos difíceis antes, por aqueles dias cinzentos em que ainda é tão difícil reorganizar a rotina sem alguém especial por perto, entretanto, se você de fato mora no meu coração, a sensação de perda pode ser uma perspectiva e tão só.
Abri os olhos e abracei o travesseiro. Eu fui forte das outras vezes.
E quantas vezes você não teve escolha senão ser forte, mas precisava de colo, colo esse que eu não podia te dar? Quantas vezes você sorriu querendo chorar? Quantas vezes mais alguém te magoou e você silenciou porque queria se convencer de que tudo ficaria bem? Quantas vezes você pode ter inventado motivos para ficar, mas seu coração já estava distante? Quantas vezes você planejou e a coragem te traiu? Quantas vezes você cumpriu a rotina sem sentir verdadeira alegria por mais um dia?
Porque é muito triste quando um sonho deixa de fazer sentido, quando você perde o gosto por fazer algo que outrora te agradava. E se você estiver em busca de escutar seu coração, saiba que as estradas se abrirão e os ventos soprarão na direção que você deve rumar.
Repito o que me disseram nesses momentos em que não sinto o chão sobre meus pés: NÃO TENHA MEDO, TUDO VAI DAR CERTO NO FINAL.
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 15/06/2020
Reeditado em 16/06/2020
Código do texto: T6978474
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