Um ano e meio.

Acabo de receber pelo celular um vídeo que anda circulando na internet onde o Marcelo Odebrecht diz em depoimento na PF, que não conhece nenhum político que tenha feito campanha sem usar caixa 2; depois aparece o Bolsonaro numa palestra informando que uma repórter que o acompanha em viagem lhe perguntou em dado momento, “Deputado, o senhor tem certeza que não está na Lava-Jato?” Ele então responde pra ela “Olha, eu fui citado no mensalão pelo Joaquim Barbosa como o único deputado da base aliada que não foi comprado pelo PT.” Na sequência do vídeo aparece o referido Ex-Ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, fazendo a leitura do que suponho ser a fundamentação do seu parecer, ele diz: “...Os líderes dos quatro partidos que apoiavam o PT orientaram seus deputados a votarem a favor do projeto encaminhado pelo governo - não menciona qual o projeto -, somente o deputado senhor Jair Bolsonaro, do PTB, votou contra a aprovação da referida lei.” O Bolsonaro continua falando na palestra, e diz ainda, que fora citado pelo doleiro Alberto Youssef como um dos três deputados do PP que não meteram a mão na Petrobras - aparece, então, o próprio Youssef em depoimento, relatando a referida citação. Adiante Bolsonaro faz agradecimento publico à revista Veja, como único órgão de imprensa a informar que somente ele, Bolsonaro, devolveu duzentos mil da Friboi. Ele continua: “a Friboi estava doando, naquele momento, trezentos e sessenta e dois milhões para partidos políticos; tá na cara que tinha maracutaia”. Segue: “...ser honesto não é virtude, é obrigação. É isso que desperta por vezes o ódio de algum político, e eles continuam me chamando de tudo, só não me chamam de... Ele se cala e o auditório responde por sua vez um uníssono “corrupto“.

Duas frases acompanham este vídeo, uma diz assim: Propina: O único na História a recusar foi Bolsonaro.

E a outra diz: Entenderam o motivo de tanto ódio da oposição contra Bolsonaro?

Facilmente se percebe que o vídeo trás eventos que aconteceram nos idos de 2005 pra cá, isso prova que vem de longe a correção moral de Bolsonaro. Mérito pra ele. No entanto, quem anda divulgando estes vídeos quer influenciar amigos e parentes de que o Presidente atualmente vem sofrendo ataques sucessivos dos opositores e da imprensa em geral por conta da sua honestidade. Não tem cabimento querer forçar a barra. Jamais presenciei alguém de notória dignidade ser atacado justamente por causa da sua virtude, pelo contrário, estes são sempre respeitados e acatados no meio dos bons e íntegros. Este vídeo sofreu evidente manipulação para servir de propaganda eleitoral durante a campanha em 2018, com certeza. Campanha essa majoritariamente feita através das redes sociais e aplicativos pra galera jovem, sem experiência. Deu certo!

Um ano e meio de governo.

A campanha eleitoral já passou, o momento é outro, e o Brasil espera um presidente reformista e atuante, líder, gestor competente e preocupado com a saúde e o bem estar do povo. Desde que Jair Messias Bolsonaro tomou posse, porém, em Janeiro/2019, uma série de eventos desfavoráveis saem da Praça dos Três Poderes e se irradiam país afora causando dúvidas, indignação, decepção e nenhuma compaixão da população pelo seu Governo. Já de início, com apenas um mês e meio no cargo, o Presidente exonera Gustavo Bebiano, advogado e colaborador de campanha por conta de desentendimento com seu filho Carlos Bolsonaro. Enquanto isso, a reforma da Previdência se mantém parada no Congresso esperando receber a reforma do regime previdenciário dos militares, que só fora entregue em fins de março. Ainda em março, o Ministro do Supremo, Dias Toffoli, abre inquérito para apurar notícias falsas que tenham a Corte como alvo. Em abril sai Ricardo Vélez da pasta da Educação. No mês de Junho, o General Santos Cruz, da Secretária-geral da presidência, é exonerado por causa de atrito com a ala olavista do governo - chamou de "show de besteiras" a gestão de Bolsonaro após ser inocentado dos agravos que lhe foram imputados. Concomitante a estes fatos, o Presidente, diariamente, em solidariedade à seus apoiadores, desce do carro logo de manhã cedo no caminho pro Planalto para tirar selfies e trocar inevitáveis informações com os jornalistas de plantão; com estes, em especial, responde no seu jeito autoritário e truculento de sempre. Não aceita ser contrariado. Ameaça os canais de TVs, calunia a mídia impressa e influencia seus seguidores a tomarem o partido da sua causa, quando, na verdade, deveria acionar a AGU para tratar de eventuais ilações ou reportagens maldosas e tendenciosas tanto contra a sua pessoa, o Presidente, quanto ao seu governo. Em Agosto, o presidente acusa o INPE de mentir sobre os dados do desmatamento, e exonera o cientista Ricardo Galvão da direção do órgão. Só faltou advertir o diretor publicamente: nada de divergências comigo, vê se aprende. Em Outubro, Bolsonaro retira Joice Hasselmann da liderança do governo no congresso porque ela era contra Eduardo Bolsonaro assumir a liderança do PSL na Câmara. Antes mesmo de passado o conflito com a ala bolsonarista do partido, a deputada começou a sofrer ataques permanentes do que ficou conhecido como o ‘gabinete do ódio’. Já em novembro/19, o STF se reúne e em votação apertada, muda o entendimento vigente e proíbe a prisão após condenação em segunda instância, o que permiti que o Lula deixe a prisão. Começa aí campanha difamatória pela Internet, por vezes com ameaças ao Supremo e seus Ministros, e também, ao Parlamento e seu presidente, Rodrigo Maia. Na área das reformas, o Pacote anticrime de Sergio Moro é aprovado em 04 de Dezembro pela Câmara dos Deputados após 10 meses de tramitação, com uma baixa importante, a rejeição de prisão em segunda instância, e sem que houvesse manifestação mais contundente por parte do Presidente contra o repúdio a esta proposta. No mais, o governo continuava sem articulação suficiente para pautar qualquer outra coisa. Ainda no início do mês, surge o covid-19 em Wuhan na China. A mídia brasileira mostra diariamente a atuação do governo local para tratar os infectados. Primeiro eles fecharam a cidade e confinaram seus moradores num isolamento total, todo o comércio de portas cerradas, transporte público parado, hospitais de campanha foram construídos em regime de urgência para tratamento local dos pacientes, e ninguém tinha permissão de entrar nem sair da cidade, a não serem os estrangeiros para regressar a seus países de origem. Durante todo o período de Dez/19 à Mar/20 nada foi feito pelo governo brasileiro como providência contra o covid-19, porque o Presidente menosprezava e, ainda hoje, continua desprezando o vírus. No início ele se negou a resgatar os brasileiros no oriente (mandar uma aeronave exclusivamente para buscar o pessoal, é um custo muito alto, alegava), mas, com o alarde dos nossos compatriotas junto a embaixada na China, o Presidente se viu obrigado a mudar de opinião e trazer nossos conterrâneos de volta. Em 13/02/20 Onix Lorenzoni (hoje investigado por caixa dois nas eleições de 2012 e 2014), num longo processo de fritura sai da Casa Civil e assume o Ministério da Cidadania em 18/02/20 com agrado extraordinário do Ministro Paulo Guedes, que turbinou o seu salário de deputado - R$ 33,700 - com acréscimo de mais R$ 21.000 por conta de jetons no Sistema S, condição especial para ultrapassar o teto constitucional de R$ 39,200, o salário de Ministros do Supremo - referência de valor. Enquanto o vírus se alastra pelo mundo afora, Bolsonaro aproveita a ausência do olhar atento da mídia, mais focada em outros assuntos, e condecora os filhos Eduardo e Flavio Bolsonaro por quatro vezes seguidas com promessas de mais. Tudo isso vai somando na balança do desgaste político do governo. Passado o Carnaval, sai registro do primeiro caso de cidadão contaminado pelo famigerado vírus em solo brasileiro. Desde então as desavenças se acirraram entre personagens dentro do governo federal, do governo federal com o estadual e municipal, do Presidente com os meios de comunicação, do Bolsonaro com os demais Poderes, um verdadeiro caos. Um auxílio emergencial de R$ 600 concedido pelo Governo foi pago através da Caixa aos beneficiários do programa Bolsa Família e aos inscritos e não inscritos no Cadastro Único, mas o recebimento desse valor expôs ao vírus e infernizou a vida de cerca de 59 milhões de brasileiros devido a informações divergentes no site da Caixa. Em abril, a bola da vez caiu nas mãos do Mandetta, exonerado do Ministério da Saúde por conta de divergências com o Presidente quanto a política adotada para tratar da pandemia. Também em abril, no STF, Alexandre de Moraes abre inquérito para apurar atos antidemocráticos com a participação de deputados e do próprio Presidente (a maioria sem o uso das mascaras, item exigido pela administração do DF pra quem estiver na rua) em aglomerações diante do Planalto com pedidos de intervenção militar feitos por apoiadores de Bolsonaro. Ora, tudo isso é muito grave, são atos contra a democracia, não pode ficar na conta de perseguição ao presidente. Osmar Terra, que foi exonerado do Ministério da Cidadania em fevereiro, era muito alinhado a Bolsonaro e francamente contrário às recomendações da Saúde no tratamento contra o covid-19, em maio culpou Drauzio Varela pelo termo “é só uma gripezinha” e condenou o isolamento social dos governadores. Tais manifestações públicas causam muito mal à saúde do povo, por provocar dúvidas quanto ao que está sendo recomendado e a eficácia do tratamento. O vírus avança pro interior do Brasil, as mortes destroem e desiludem famílias, os sites de relacionamento reproduzem o acirramento de ânimo das pessoas e ninguém se entende. Após a exoneração de Mandetta chega a vez do celebrizado ex-juiz Sergio Moro, que, há meses sofrendo esvaziamento dentro do governo, pediu demissão do Ministério da Justiça após a exoneração do seu braço direito, o diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeicho. Na entrevista coletiva do ex-ministro ele faz graves acusações ao presidente que reverberaram o dia todo. O mês de maio se inicia com sérias divergências nos meios de comunicação, com sites apoiadores do presidente difamando Sergio Moro enquanto sites de opositores pediam o impeachment de Bolsonaro e, a mídia tradicional tentando se manter imparcial nas notícias. Por fim, em 15 de maio, antes de completar um mês no cargo o então Ministro da Saúde Nelson Teich deixou o governo do presidente porque este queria a cloroquina no cambate à covid-19; e o decano do Supremo, Celso de Mello, divulga íntegra de vídeo de reunião ministerial. Mais um inferno astral na vida do presidente, mas a culpa é só sua.

Pois bem, acho que ficou claro até aqui o quanto é difícil conviver com alguém de perfil tão autoritário. Ele continuará em guerra com os meios de comunicação por conta de denúncias que o desagradam, continuará em guerra com os outros poderes por lhe fazerem “oposição” e continuará em guerra com todos os brasileiros que lhe sonegarem apoio. Até quando?

Eu não conheço a sua trajetória, tem alguém capaz de responder a estas perguntas: ele nunca fez oposição nos governos passados, quando era deputado? A mídia nunca fez denúncias nos governos anteriores? O brasileiro vivia no paraíso e não sabia?

Presidente mostre competência, faça o que tem que ser feito, o Brasil agoniza.

Prometo expor aqui o que for feito de bom e benéfico aos brasileiros e ao país.

Paz, Bolsonaro, queremos paz.

Dilucas
Enviado por Dilucas em 10/06/2020
Reeditado em 04/11/2022
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