Sei lá
Tem dias que a gente acorda tão “sei lá” que nada do que fazemos volta as coisas pro lugar. Maquiamos uma máscara em nosso rosto, mas não gostamos do que vemos.
O problema nunca esteve do lado de fora. Tá tudo lá dentro, escondido atrás de caixas e mais caixas guardadas num cômodo abandonado. Mas, quem é que vai arrumar essa bagunça? Pediram que eu ajudasse, mas sou alérgica a poeira.
Só de pensar começo a me lembrar de minhas crises alérgicas e eu não preciso disso agora. Contratem alguém pra limpar essa bagunça ou a deixe pra lá.
Ali eu não toco.
Poeiras e caixas, caixas empoeiradas separadas por tópicos, boa parte escrito “FRÁGIL”, em letras grandes e tortas. Dizem que se organizar as caixas o problema vai embora. Mas, sendo bem sincera, acho que ele se acomodou lá, naquela bagunça. Apegou-se as caixas, não acho que ele as abandonaria.
Peguei-me pensando em Jandira. Ela arrumava os arquivos em uma empresa que eu trabalhava. Tudo manual, cheio de papéis e caixas. Jandira costumava dizer que, lá dentro, tinha tanta caixa que se colocassem algum papel na caixa errada, talvez nunca mais o achássemos. Saberíamos que algo está errado, mas não o local do erro. Só se olhássemos caixa por caixa, mas tinha caixa demais. Por isso, Jandira não deixava que ninguém mexesse em nada.
Ela era extremamente organizada e rigorosa, e nas caixas dela só ela tocava.
Talvez, se fôssemos Jandiras, o caos não seria instaurado.
Tem dias que a gente acorda tão “sei lá” que nada do que fazemos volta as coisas pro lugar.