A VELOCIDADE DO TEMPO E A SINGULARIDADE DE CADA UM
“Como é bom estar viva, respirar e apreciar cada instante, assim como eles são”. Monja Coen
O tempo, assim como tudo o mais, está sujeito a um ponto de observação.
Interessante esse ponto de observação, que é muito particular e específico, mas, também sofre a influência de quem está a observar.
Se eu saio à rua e vejo uma pessoa, além de avalia-lo, eu o percebo assim como a mim mesmo, através de comparações. Me entendo como gordo se estou em meio a pessoas de menor peso que eu. Me vejo idoso, se em meio a pessoas mais jovens. Enfim, nossas avaliações partem dessas comparações.
Mas, quão melhor seria se nossa observação tivesse como parâmetro a diversidade, a percepção de que somos únicos e, por essa razão, com valores intrínsecos. Assim nos veríamos livres de muitos tipos de comparações.
Poderia pensar: sou mais pesado que aqueles que me cercam, o que me torna diferente e particular, me faz um indivíduo. Tenho mais idade do que as pessoas que me cercam, o que significa que vivi mais, tenho mais experiência, o que me torna especial. E assim por diante. Esse novo olhar nos traz libertação e, mais do que aceitação, nos faz ver valores intrínsecos em nós mesmos e nos outros.
É como o trabalho em equipe: se todos fossem iguais, não haveriam resultados satisfatórios. Sendo cada um uma pessoa única, com potencial próprio, o conjunto da equipe se torna mais forte. Assim é a natureza: as espécies evoluem para sobreviver, sofrem mutações, o que as torna mais fortes e adaptadas – fossem sempre iguais não resistiriam aos processos de mudança que são constantes.
Mas, partindo desse princípio, trago-os para a questão do tempo.
O tempo é uma percepção individual. Tenho a impressão de que certos dias demoram a passar, mas, em outros, a sensação é de que passaram rapidamente. Entretanto, o tempo foi o mesmo. O que, então, nos traz essa variação de percepções?
Em tempos de quarentena, passei a observar comigo a velocidade de minha percepção do tempo.
Dias em que eu estou mais atento aos locais e fatos que ocorrem, o tempo parece demorar a passar. Em contrapartida, quando me distraio com pensamentos voltados a coisas distintas do momento e locais presentes, o tempo parece correr mais rapidamente.
A questão, portanto, é de estado mental.
Eu posso estar dentro de casa, confinado, mas, se procurar estar presente, sem deixar meus pensamentos me levarem a outros lugares e situações não presentes, posso alongar o tempo, pelo menos para minha percepção.
Na sala onde estou neste momento, existem muitas informações. Tenho livros que posso ler, televisão, caso queira assistir, um Smartphone com acesso à internet, abrindo a possibilidade de contato com pessoas do meu relacionamento e até mesmo com pessoas que desconheço, mas, que podem me trazer informações do meu interesse.
Tenho ainda tarefas de casa, refeições para fazer, roupas para cuidar, limpeza etc.
Se conseguir me concentrar naquilo que estou fazendo, o tempo será mais longo e os resultados serão melhores, pois, estarei mais atento ao que faço.
Essa atenção maior, esse “estar presente” é uma forma de meditação. Meu conceito de meditação é exatamente esse: estar vivendo o momento presente, eliminando as distrações, os pensamentos que nos levam a dois mundos que não existem, que são o passado e o futuro.
Estar presente nos traz a oportunidade de nos encantarmos com pequenas, mas significativas situações, como, por exemplo, a beleza de um raio de sol e seu efeito colorido ao entardecer sobre a rua, flores na varanda de uma casa diante da minha, odores saborosos de comida sendo preparada. O encanto da vida diária que nos passa tantas vezes despercebido.
O momento dessa quarentena nos faz pensar sobre quanto é bom poder respirar, enquanto muitos estão hospitalizados com a necessidade de equipamentos, às vezes indisponíveis. Como é bom podermos estar em casa, enquanto tantos moram nas ruas.
Como é bom viver a vida assim como ela é, conforme nos sugere a Monja Coen, pois, a vida é aquilo que temos de mais valioso e, se observarmos com atenção, encontraremos sentido, beleza e reconheceremos nosso papel fundamental em meio a ela.