MILITÂNCIA ESQUIZOFRÊNICA: A VISÃO DE QUEM TUDO VÊ LUTA.

Entre tantas coisas que podemos perceber na pós modernidade, certamente um dos fatores inescusáveis é o militanismo. Descrevo aqui militanismo, não simplesmente como o ato de militar por uma causa, mas sobretudo, por tudo militar por uma causa. A questão então, pelo qual redijo, não é o ato em sí, mas de todos os atos partirem da primícia de militar. Nesse sentido, militanismo é um conjunto de ideias que tudo perpassa o Militar por militar por uma única e suposta causa, assim como, se pudéssemos ser um sofá acharíamos que nossa única habilidade seria permitir aos outros sentar. Mas sofá não pode servir também para se deitar, pular, e outras coisas mais?! Mas quem é militanista, só acha que foi criado para ser assento (ou para sentar-se sob alguém?!).

Etimologicamente, a palavra militância, e consequentemente militante, exprime o sentido “ser soldado, servir ao exército, militar”. Desta maneira, o sujeito militante é aquele que serve a um exército; uma causa, da qual, pensa ser a mais correta e melhor. Qualquer pessoa que tenha uma noção básica sobre forças armadas, sabe que uma boa tática para implantar uma noção de amor a causa (nação) é instigar um sentimento de honra, nobreza e coragem. Com o militanismo, a coisa é a mesma. O que agarra alguém a militar por militar, de forma alguma é a razão ( pois a razão, fria e calculista como é, não gosta de riscos), mas os valores sentimentais que lhes empregam: a salvação da humanidade, a resistência na luta, supostos valores de equidade, a ira ao inimigo, e assim sucessivamente.

Se há, no entanto, alguma suposta diferença entre a militância dos militares e o militanismo (no seu estágio mais esquizofrênico) certamente é que, o primeiro, só é militante quando se faz necessário, o segundo, porém, inspira e expira a guerra, aliás, seu único sentido e compreensão das coisas é a própria guerra. Ele se acorda achando que o cereal do café é inimigo mortal do leite; que a gravidade é inimiga feroz dos corpos, ou até mesmo, que o dia vive brigando com a noite, uma vez que elas não se encontram. Todas as coisas transpassam a luta!

Há um enorme problema, porém, de em todas as coisas se ver guerra. É que de fato, ela pode provocar uma. De tanto que um adolescente possa vir a jogar Bomberman, quando lhe for cerrado os olhos, a única coisa que ele verá, certamente será os bonecos defecando bombas. E é exatamente isso que acontece na contemporaneidade, as pessoas fecham seus olhos para a realidade e veem um mundo mais minado do que de fato ele já é. Os pós modernistas acreditam que vivem na vida real, sendo que há muito, já estão em Nárnia.

Observemos o estado de espírito do jornalismo atual, por exemplo. A profissão jornalismo deveria ser (pelo menos, é o que deveríamos esperar) focado em informar a população sobre os acontecimentos que estão ocorrendo, fazendo uso de dados e fatos. A sensação, porém, que cada vez mais temos, é que o jornalismo pós modernista ao invés dos fatos, mostra primeiramente a opinião, e o público se quiser, que procure os fatos. Obviamente falo de uma tendência, mas não de unanimidade. Sendo assim, a causa (ou o ato de militar) é mais importante que os dados (corpo de sua profissão). É o que chamaríamos de jornalismo militanista.

Quando se vê guerra em tudo, também, se começa a criar conflitos até onde não se tem. Homens X Mulheres ( os dois ainda continuam se casando e tendo filhos), Negros x Brancos ( morando, casando e trabalhando no mesmo lugar), Héteros X Homo ( ambos fazendo o que querem com suas sexualidades), Humanos X Plantas ( vivendo no mesmo Planeta) e ET x bumerangue. Vale ressaltar, porém, que quando mostro que quando homens e mulheres se casam, negros e brancos moram no mesmo bairro; usam a sexualidade como bem querem, ou os humanos e plantas compartilham do mesmo habitat, não quero dizer que não haja racismo, feminicídio, preconceito sexual ou crise ambiental, mas que devemos ver apenas onde os problemas se encontram e resolvê-los, e não criar outros com briguinhas de quinta. A questão que vejo, então, é que quem vive em guerra precisa que o inimigo também guerrei, mesmo que para isso, possa provocá-lo com questões ínfimas, ou então, tão somente para despertar o valor de luta em outros coleguinhas.

A outra problemática que percebo no fantástico mundo de Bob é o levantamento de pautas de guerra. O militanismo, por sempre colocar os óculos da causa, para além das pautas reais e necessárias, gostam de fazer fogo com isqueiro sem gás. Eles imaginam que quando colocarem tal isqueiro sob uma pilha de madeira o fogo se espalhará a todo o Universo. O problema, todavia, é que o fogo só está na sua cabeça. As pessoas veem os lunáticos gritando: fogo, fogo, fogo! E logo pensam: Vou para casa dormir! Os militanistas afirmam que o cristianismo é racista, homofóbico e machista; que só tem interesseiros, alienados ou gananciosos, contudo as pessoas vão para as igrejas, creem em Deus e continuam fazendo suas orações. Os militanistas dizem: O capitalismo é a raiz de todos os males. Fogo nos burgueses! A população, contudo, simplesmente procura seus empregos nas empresas e desfrutam das benesses do capital. As pessoas fazem isso, não porque não percebem que há alguns cristãos de péssimo caráter ou por ser míopes em relação as desigualdades sociais, mas por não vê fogo onde simplesmente não existe. Simples assim!

O pior que vejo, porém, após tudo isso, é que os militanistas certamente possuem o dom de roubar a paz. Eles entram nos quintais e ficam brincando de guerra com seus carrinhos e bonecos, fazendo enorme barulho e gritaria, até que alguém adulto lhes arranca do mundo imaginário. Mas vocês acham que isso resolveria?... Não! Eles caem a mais berros; choram descontroladamente e acusam o adulto de opressor até torrar os tímpanos! O adulto, logo após, tenta consolar os pequeninos, e os mesmos, em ato de traquinagem, lhes dão um beliscão. Assim é o vitimismo tóxico!

Resta ainda, para finalizar, algumas considerações. Primeiro, que os militanistas insistem que as pessoas devem se posicionar a qualquer custo, escolher entre as cores branco e preto. Mas qual é o problema de não se posicionar? E se por acaso alguém quiser um cinza? Eu particularmente, só posiciono minhas pernas quando quero andar; minhas mãos, quando quero pegar, escrever ou coisa do tipo. Quando não preciso para tais coisas, deixo elas em repouso. Só uso quando me é útil e necessário! A Segunda consideração, é que este texto não foi elaborado com o objetivo de fazer acreditar que toda e qualquer militância é lunática, mas que o militanismo ( como o conceituei outrora) é. São Paulo certa vez escreveu: “se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente”, ou seja, o ato de militar só pode ser coroado dentro do que é legitimo, e para mim, legitimidade, nesse caso, é equilíbrio e sensatez.