Janela fechada
Ouvi dizer que, enquanto estou dentro da minha cabeça, há borboletas lá fora dançando com o vento. Pássaros que cantam e passeiam de galho em galho e folhas que balançam juntas. Ouvi dizer que tem um céu azul lá fora, o sol quentinho, carros, pessoas e histórias. Mas, embora eu saiba disso, tem uma janela fechada na minha mente. Janela essa que bloqueia os raios solares, as brilhantes ideias e a poesia das coisas. Há vida, há histórias, há cenas. Mas, nada passa pela janela. Nem mesmo uma grande pedra a quebraria. Tem uma cortina nela, causando um blecaute. E eu estou aqui dentro, tentando ordenar os pensamentos, tentando fazer história, tentando escrever sobre algo, em meio ao bloqueio da mente. Talvez não seja só o corpo que se prendeu dentro de casa, a mente também. Se a mente tá presa, a gente se inspira em que? A gente escreve sobre o que? A gente escreve sobre o bloqueio. Sobre o blecaute. Sobre o controle, diário, da ansiedade e sobre a pequena faísca de fé, que nos garante que tudo ficará bem. Há uma janela fechada na minha mente e ela me obriga a ver as coisas de dentro, contemplar o que há dentro, escrever sobre o que há dentro, enquanto eu não posso ver o que há lá fora.