A CONSCIÊNCIA DO INFINITO

No rosto do meu próximo mais próximo (e o que dirá o distante!) habita uma incógnita que é somente dissipada na sua disposição para a participação do diálogo, o qual desfaz o mistério que paira no seu ser e me convida a um exercício autêntico de compreensão. Somente na radicalidade de uma ética que visa o autoconhecimento na relacionalidade com outro ser humano, é que posso me aproximar de seu ser e de sua verdade. É nesse momento que percebo: a imposição da moralidade como algo ineficaz para a incorporação de tal atitude, até porque ela é incapaz de despertar a minha consciência para a realidade do outro e incapaz de me forçar a uma preocupação com a sua vida. Para tal compreensão de outro ser é, então, necessário uma profundidade espiritual e uma sensibilidade para alcançar o que parece ser o impenetrável, o inacessível, o inescrutável. Essa transcendência mediada por uma livre e responsável disposição ética, possibilita que eu saia dos meus dramas estritamente pessoais para ser co-participante da história de outro ser humano, desse ser que abre espaço para que eu o visite em meio aos seus dramas existenciais. Partindo da intuição levinasiana e, ao mesmo tempo, tecendo minhas próprias considerações, é na desnudez do rosto do meu semelhante, no seu apelo por cuidado (onde se torna possível perceber as nuances de sua sinceridade), que o infinito é descortinado pela minha consciência em sua intencionalidade, o qual até então aprendeu a reconhecer muito bem os efeitos da finitude, mas que agora se dá conta de que habita no seu ser e no ser de outrem um sopro de vida eterna, como bem dizia Martin Bubber. O abraço de dois olhares, o qual possibilita a prática terapêutica do conselho, da hospitalidade e do cuidado, é sem dúvida a poesia que emana da eternidade e faz com que o divino seja uma realidade presente, desconcertante e inefável.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 05/06/2020
Reeditado em 16/06/2021
Código do texto: T6968458
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