Desejos, vícios e o Ego. reflexões sobre o descobrimento do ser
É preciso expandir a consciência para sair da automatização do fazer, ações geralmente são guiadas pelas necessidades de satisfação do ego.
Fazemos e desejamos coisas no instinto, sem entender a origem do nosso buscar, desperdiçamos energia focando em coisas desnecessárias, falando bobeiras, se distraindo com redes sociais por exemplo. Tudo isso tem sua importância quando utilizado em seu devido lugar e com autocontrole, mas, quanto mais deixamos a mente em um estado de entretenimento, menos observamos, ficamos cegos. Depois de conseguir depurar e fazer uma limpeza mental podemos realmente entender a profundidade que envolve cada ação que realizamos.
Quantas coisas acontecem, quantas teias de realidade se entrelaçam gerando um ritmo cósmico manifestando a perfeição da existência, agir sem agir eis o ponto de compreensão. O habito de querer ter múltipla atenção nos aprisiona em nossas próprias percepções, pensamos poder fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas em realidade, não fazemos nada com plenitude. Entender a raiz da vontade daria um alivio existencial porque ao entender a sua essência encontramos a maneira de atuar conscientemente, estando interligado e em harmonia com o todo.
Somos poeira no universo, um frame em um longa-metragem, entender a transitoriedade da existência é importante para abandonar o apego aos frutos da ação, os frutos são para a vida, queremos ser reconhecidos pelo que fazemos e essa é a maior ponte que nos distancia da verdadeira ação. Estamos cercados de jogos e distrações, mas não jogamos como crianças, as crianças jogam porque amam o que fazem, disfrutam com a alegria de fazer o momento se tornar eterno, mas toda criança chora quando o jogo termina, porque não somos educados a desapegar das emoções quando elas passam, ficamos alegres e queremos estar sempre assim, prazer em nosso cérebro é uma droga sem tabu.
Continuamos tendo a mesma postura de apego que nos leva ao sofrimento, não sabemos soltar as emoções, mesmo quando estamos tristes ou em uma situação difícil, somos masoquistas, gostamos de sofrer porque assim recebemos atenção, agir tendo o propósito de ganhar atenção nos distancia da consciência da ação, o problema que esse é um dos males que menos percebemos pois ele se esconde em nosso subconsciente.
O desejo de recompensa é uma algema de titânio, o que substitui essa sensação se a deixamos para traz? A satisfação no ato em si talvez seria um bom candidato, mas estaríamos trocando uma prisão por outra, agir por satisfação pessoal é apenas outra de tantas pontes que nos distanciam da contemplação transcendental, alcançar isso parece algo impossível que somente gurus e loucos andarilhos conseguem alcançar, essa sensação de complexidade é a venda que nos cega, desaprendemos a ver o simples.
“A simplicidade é o último degrau da sofisticação” Leonardo Da Vinci
Cada camada de filtro que colocamos para ver as coisas nos distancia da coisa em si, estamos presos nessa teia de achismos, achamos que vemos achamos que ouvimos. Misterioso o caminho de aprender a ver, mas aprendendo a ver, quem sabe aprenderemos um dia a ser. Algo queria nos dizer os grandes sábios que vieram a esse mundo que ainda não conseguimos entender, principalmente com relação a abandonar o que achamos que somos. Uma nova metodologia é necessária para aprendermos a ver e fazer as coisas realmente, vivemos em um mundo com mais distrações do que nunca, uma distração hipnótica que é capaz de vencer qualquer batalha contra as formas tradicionais de expansão de consciência, na tela que seguramos em nossas mãos temos a nossa disposição o mundo, e por alguma razão a dinâmica com que essas “ferramentas” foram feitas exerce um fascínio em nossas mentes que o simples fato de fazer uma coisa de cada vez nos parece algo totalmente inviável, estamos sendo educados e manipulados para fazer várias coisas ao mesmo tempo o mais rapidamente possível, assim fazem com que percamos o controle de nossa atenção, eis o formato da escravidão atual. Se aprendemos a parar e fazer cada coisa realmente em um estado de atenção plena encontraremos a liberdade, é como andar sem querer chegar para poder chegar mais rápido.
Algo tão saboroso como o mel pode perder seu encanto se está envolto em coisas desagradáveis, ter visão em um mundo cego talvez te transforme em outro tipo de cego, a final do que adianta ver o mundo maravilhoso se teremos que ver sozinhos? Seremos chamados de mentirosos, vão querer nos sacrificar porque dirão que tal mundo maravilhoso não existe, então porque buscar essa visão transcendental? Quem sabe para que em outra vida em algum lugar possamos sincronizar nosso nível de visão conquistada nesse mundo para acessar uma dimensão onde ela possa ser trabalhada e evoluir para outros tipos de compreensão. O problema é fazer isso abandonando também a crença de que somente no futuro após a morte seremos recompensados pelas coisas que fazemos aqui, eis a escravidão de muitas pessoas amarradas a instituições religiosas, é fato que a evolução não termina, o tempo de agora deve ser disfrutado e vivido por isso a libertação é importante, ver é importante e agir de maneira sincera e com energia nos faz propagadores de luz.
Siga o caminho, passo a passo, vivendo cada momento, um pé levanta, o outro apoia, as temperaturas variam, a cada fase da vida o caminhar tem um sentido diferente, a idade chega e continuamos caminhando, só que mais lento, lento é bom, as folhas que caem no outono se movem por você, as lembranças já são maiores que os sonhos, mas a sabedoria garante a certeza de que cada passo será vivido em sua plenitude.
Em algum momento seremos contemplados com a visão da totalidade, tudo será arte, tudo será vislumbre, mas somos criaturas de vícios e pecados, uma cerveja na sexta feira ou uma puta no dia de pagamento, estamos dispostos a largar os vícios da existência em pró da iluminação? Adoramos vícios, vivemos para sustentá-los, até mesmo meditar pode ser um vício, se fechar em uma caverna não garante a iluminação, é preciso viver a carne, viver o profano, conhecer o contraste, a final a luz só existe por causa da escuridão. Filtrar as informações que colocamos na nossa mente e tornar mais flexível nosso estado vibracional é a chave para adquirirmos a habilidade de agir em qualquer aspecto da vida com um verdadeiro sentido e presença de espirito podendo assim, sermos uma ferramenta de transformação rumo a luz que é o caminho natural para onde todas as coisas crescem.
Encontrar-se, o maior desafio da existência, a maioria passa por esse mundo sem lograr esse trunfo, para isso é necessário desfazer-se na existência, transcender a perspectiva que temos do ego entendendo como funciona nossa individualidade que é algo importante para nos conectar com o mundo físico.
Condicionados em loops de comportamentos impostos por nossos pais, sociedade, amigos e todo um sistema que nos molda, deixamos de ser naturais, queremos ser evoluídos, tecnológicos, mas perdemos a essência das coisas , abandonamos nossas mentes para que as maquinas a controlem, ansiosos, não sabemos ouvir alguém sem estar pensando em que resposta vamos dar para impor nossa soberania energética, queremos ganhar um jogo sem prêmios, número virtuais enchem nosso ego ao mesmo tempo que nos faz sentir mal quando demonstram números negativos. Somos frágeis. Quando abandonamos a necessidade de controle dos resultados de uma ação e fazemos com intenção de propagar boas intenções e deixando que a própria existência tome conta dos resultados dessa ação então realmente começamos a chegar perto de fazer algo genuinamente.
Nos afastamos do nosso verdadeiro ser quando conquistamos o que desejamos, um estopim para uma nova meta é ativado, um ciclo que não termina, é o propulsor da própria vida, mas que sem a devida compreensão nos aprisiona. Somos a manifestação do desejo, o problema está em como sentimos satisfação ou insatisfação tendo como fator predominantes a concretização desses desejos, seria saudável algo tão delicado ser o que determina nosso estado de espirito? O que não conseguimos geralmente é ter desejo por algo sem ter apego, o desejo nos move pela vida o apego nos leva ao sofrimento. O que deveríamos conquistar é que nossos desejos sejam frutos de nossa conexão com o Self pois todo desejo que nasce do ego tem como única finalidade satisfazer nosso desejo de satisfação momentânea, por tanto é algo superficial em sua natureza, contrário do desejo que nasce da luz de estarmos verdadeiramente conectados com nós mesmos, seus frutos se espalham, dando uma verdadeira satisfação espiritual onde podemos disfrutar plenamente do processo da ação em si, ganhando assim uma visão desapegada dos frutos desse processo diminuindo o movimento do pendulo das emoções, que nos ajuda a ter uma vida mais equilibrada e sem sofrimento.
‘A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional’
A incertidumbre nos deixa nus em um vácuo de inseguranças, quanto mais pensamos que temos controle de nossa realidade de alguma maneira a vida sempre nos lembra de sua instabilidade. Buscamos satisfações nutrimos um estado de proteção, é algo natural, mas ilusório, a existência é movimento, flui em um ritmo que não pode ser metrificado, indo de contramão da forma como somos educados, falsos aprendizados esses, que vomitados em nossas mentes em forma de propagandas, modas e toda classe de superficialidades, nos escravizam utilizando a nossa maior debilidade, a necessidade de aceitação social e pertencimento de grupo, somos seres de convívio, se todos em nossa volta começam a pular de uma ponte existe uma grande possibilidade que sigamos a corrente, tudo para sermos parte de um todo.
Libertar a necessidade de ter controle sobre as coisas, é primordial para alcançar uma vida fluídica, tendo em conta que felicidade não é estar em estado de alegria todo o tempo, mas sim fluir o mais naturalmente possível entres as diferentes vibrações que a vida propõe. Ter um foco genuíno nos faz ter energia para progredir rumo a nossas intenções, mas sempre haverá uma resistência e ela é a chave para que possamos seguir evoluindo, compreendendo a importante função que a resistência tem em nossas vidas, temos a possibilidade de aplicar a energia correta sobre ela, diferente da principal manifestação que acontece quando não a entendemos, que é o ato de reclamar. Antes de encontrar o caminho mais satisfatório para uma determinada ação temos que aprender todas as formas possíveis de se equivocar e elas nunca terminam, sempre vai ter um jeito melhor de fazer qualquer coisa, isso vale para a própria vida, então, porque não focar nossa valiosa energia no processo da aprendizagem em vez de ficar tentando mudar certas realidades e nos culpando pelo que julgamos ser algo que fizemos errado? Não adianta reclamar tudo é parte do processo, estamos aqui para aprender e aprender dói, teremos momentos de vazio, seremos jogados em precipícios aonde sem asas não saberemos o que fazer, se solte e a vida cuidará de você, mesmo que por nossa limitada visão não possamos entender o sentido de certas coisas, tudo é como é, independente da birra ou tamanho do nosso bico.