É TANTA PROVOCAÇÃO QUE RESOLVI PROVOCAR

Boca fechada não engole mosquito, é o que se diz. Também que o exemplo arrasta quando a palavra se mostra impotente.

Soube de um cara que falou demais, desafiou a ordem assegurada pelo medo e a violência. Isso foi num tempo remoto, pode ser que nem tenha acontecido porque a verdade usa roupas velhas. O certo é que a ordem, justificada na necessidade de manter o controle sobre o caos, deixa na miséria a vida sob opressão. E a lei, eficiente do lado da ordem, estabelece a corrupção como bom negócio para quem chegasse ao osso do ofício primeiro. Todos ainda se vendem pelo melhor preço.

Dizem que aquele cara, o tal que falou e que deu exemplo , foi revolucionário porque falava de coisas simples: do amor para estabelecer a paz, da equidade entre os homens. Por infundir a paz, foi torturado e morto - quem seria tolo o suficiente para morrer em nome da paz?

Como se o exemplo da tortura e morte não fosse suficiente para educar a massa, os torturadores que vieram depois (sempre homens de boa fé) tiveram a ideia genial de cobrir a genitália para que o espetáculo do suplício não escandalizasse mais que a medida planejada. Esconderam a parte do corpo que provaria ser a vítima um homem como qualquer outro e deixaram que a dúvida ganhasse pernas - cristianizaram o mundo a partir de Roma. Claro, pensando sempre no bem geral das nossas consciências diariamente esmagadas pela desordem que a religião de modo geral tenta conter.

E parece que deu certo.

Mostrar um corpo ensanguentado provoca compaixão e medo, mas o pênis intacto no corpo mutilado é muita provocação para nosso condicionamento que vem dando certo.

Imaginem o escândalo que seria o falo de Cristo à mostra? Imaginem o pinto de Deus.

A História ensina essa lição, o medo é a melhor ferramenta para nos deixar imóveis. A nudez descoberta pode ser mais escandalosa que a natureza do crime. Teria sido assim que os românticos se esqueceram do amor?

Assisto esse circo de horrores e penso que nada pode trazer de volta a sanidade coletiva. Mas fico de olho aberto e bico afiado: se me provocarem mais deixo à mostra a insolência da minha nudez até o último grito.