Flores aos Mortos
Você já deve ter se deparado com a seguinte citação, cujo autor desconheço: “os mortos recebem mais flores que os vivos, porque o remorso é mais forte do que a gratidão”. Fazendo uma reflexão, observando tudo o que acontece ao longo das nossas vidas, podemos concordar com esse pensamento, podemos dar razão à sua filosofia, mas não podemos (nem devemos) nos contentar com essa mensagem. Não podemos achar natural. Não podemos sucumbir à banalização da vida e achar que “é assim mesmo”. Precisamos mudar nossos costumes e entender que a vida é ligeira demais para escondermos nossos sentimentos por alguém.
Em um velório, quando estamos nos preparando para o último e doloroso adeus, nos surpreendemos com a quantidade de gente que surge para encarar o falecido, dizer o quanto o admirava, tecer elogios infindáveis, pessoas até mesmo distantes, parentes que não se fizeram presentes ou amigos que sucumbiram à falta de tempo. Fato é que quando morremos, quando já não podemos ouvir as declarações de amor, sentir o carinho das admirações, as pessoas se sensibilizam e libertam-se, ainda que tardiamente, das amarras injustas.
Desde que somos crianças, quando estamos nos desenvolvendo e aprendendo sobre o mundo, não somos ensinados sobre a importância de declarar o que sentimos, de não nos envergonhar de dizer a alguém que o amamos, de expor o quanto nossos familiares e amigos são importantes em nossas vidas. E nesse distanciamento sentimental perdemos abraços reconfortantes, carinhos consoladores e palavras de pura emoção. Chega uma hora que achamos que sentimentalismos são desnecessários, que palavras de gratidão podem ficar guardadas, que o importante é o que sentimos em segredo. Esquecemo-nos de que para uma pessoa, sentir-se amada e importante pode ser um grande e infalível bálsamo contra a dor da vida.
E, então, quando os ouvidos já não funcionam e os olhos já não enxergam, sentimos o incômodo do arrependimento, da culpa, “por que não falei o que sentia antes?”. As flores simbolizam toda a gratidão que guardamos para nós, todos os presentes que deixamos para depois, toda a consideração que agora é inútil, servem apenas para uma incerta tentativa de acalmar nossa alma e aliviar nosso ego.
Qual é o nosso medo ao amar e não expor esse amor? Sermos rejeitados? Decepcionados? Não recebermos em troca o amor que damos? Fato é que algumas pessoas não retribuirão com a mesma intensidade e não podemos culpá-las, não podemos obrigar que nos amem, mas outras tantas seguirão a nossa coragem e não guardarão para si o amor que sentem por nós. Não deixe para depois, demonstre o que sente enquanto puder assistir ao sorriso bobo do outro.
< Texto de @Amilton.Jnior >