Ócio

É que a tibieza vem

Não em forma física, com músculos saltando a estatura

Nem com um rosto que expressasse violência e agressão

Ela chega mansa, leve...

e logo espalha-se

Como uma virose

Que a gente nem lembra como pegou

Ou

Uma farpa

Que penetra a crosta epitelial e fica por ali

Incomodando...

Por mais que eu continuasse escrevendo

Durante todo o meu resto de efemeridade temporal

Não conseguiria amenizar por completo essa tristeza

Mesmo se o onipotente me castigasse com o poder da imortalidade

Não conseguiria assassinar por completo, esse monstro impiedoso

Viveria eternamente nesse parasitismo.

O meu lugar de refúgio

Era o onírico

Mas até os meus sonhos começaram a ter pesadelos

E a minha única gota de calmaria

Secou.

A melancolia na pintura de Edvard Munch

A sinfonia arrebatadora na voz de Tim Maia

e a raiva intrínseca, em NDDN.

Tudo isso acarretava na paleta sentimental de meu coração

E em um único dia

Afundei mais que a âncora de um navio.

Meu peito dói, meu pulmão é esmagado

E a minha visão, fica turva, pacientemente.

Torturante é não poder acabar com o tormento.