Até quando...

O menino cresceu entre as vielas da favela e viu muitos “amigos” que jogavam bola caírem mortos por causa das drogas. Ele chorou muito em silêncio pois pensava que o mundo que crescia era mais tranquilo e que todos se amavam e houvesse mais respeito assim como seus pais o tratavam e o criaram.

Ele brincava nas vielas e via a cada dia mais um novo “parceiro” e já sabia que ele teria apenas um caminho. Os caras da “pista”, os “playboys” não iriam aceitar de onde ele estaria vindo. Ah é da favela, o “crioulo” do morro, o “pretinho malandro”, o “diferente de nós” é o que mais ouvia quando estava entre eles na escola, na faculdade e por onde pisava.

Poderia seguir para vários caminhos onde havia facilidade do dinheiro, o poder, soberania na “irmandade”, mas ele disse não. Dentro de si ele podia sentir dor nas palavras, nas ações, nas quantas vezes foi excluído e muitas mais coisas que passou mas seguir em frente era o que mais crescia dentro de si e poder gritar por liberdade, para quebrar as algemas que muitos dos seus usaram, por ter a mesma posição que muitos “plays”.

Ele sabe que os que caíram foram ficando cegos e desistiam no primeiro obstáculo que bateram, mas fazer uma fortaleza em torno de si não é fácil. Recolher cada pedra que atiraram fez ele subir vários muros e assim ter a sua proteção, mas sempre em seu pensamento fica apenas uma pergunta: Até quando??? Até quando verei minha cor de pele, minha etnia, meu cabelo “pinchai” será a grande diferença entre ele e eu? Quantos mais vão morrer por ser diferenciado numa sociedade que é cega, que mente, que se cala quando um dos meus cai no chão ferido ou morto?

Escutar seu rap, funk, samba e muitos mais estilos de músicas fez ver que muitos ficaram conhecidos pelo seu talento igual ao que todos têm, mas e você que está lendo já pensou que enquanto está ai parado, muitas vezes em apenas se importar com seu umbigo mais uma família chora porque sabe que o “menino” não voltará para casa trazendo o pão de cada dia de sua família?

Lembre-se que no mesmo “buraco” que vão te colocar quando “dormir” será o mesmo que vão me colocar, que não existe diferença entre ser educado e tratar outro por igual desde que todos nós possamos amar mais sem se importar com o que mais mata e no nome desse abismo que nos separa: o racismo.

Glad Tavares
Enviado por Glad Tavares em 28/05/2020
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