Pássaro dourado com o coração fora do peito.

A vida é um reencontrar-se consigo mesmo de tempos em tempos.

É como se andando na multidão, em meio à correria do que se é, sob o domínio das demandas e urgências do agora, você pudesse se ver ali por perto ou passando ao largo.

E, nesse encontro fortuito com quem você foi um dia, vendo com os olhos de hoje a sua miséria ou a sua alegria, você quisesse alertar do perigo vindouro ou estancar a ferida latejando ou mesmo apenas dizer "aproveite!"

Mas não é possível. A multidão de outros "vocês" cruza o seu caminho, rouba-lhe a visão de você.

E, de repente, logo adiante você vê outro você de você. Taciturno, calado, seguindo a passos apressados a multidão. E, diante dessa outra face sua tão determinada, você nem insiste em fazer contato: de qualquer forma, você não daria ouvidos a você.

Então, você fica desanimado vendo você fazendo escolhas que você hoje não faria. Constrangido, você se entristece porque se não fosse você... E antes que complete a frase, lá vem vindo você. Quem diria? Nem parece que é você! Mas é sim. É você! Seu peito estufa de novo e você se sente feliz por você ter superado você e, enfim, ser quem é: você!

Parece que existe uma esquina onde todos os vocês se encontram. Um lugar apropriado para jogar conversa fora e dar um forte abraço. E você pensando nisso, vai liberando o perdão, vai abrindo o coração para reunir você com você.

@adelaidepaulaescritora

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 25/05/2020
Reeditado em 25/05/2020
Código do texto: T6957390
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