Sei do que falo?

Esses dias, deslizando o dedo sobre a tela do celular, deparei-me com uma frase dita por José Saramago. Na mesma hora refleti sobre meus comportamentos, pensei também no que temos visto nesses últimos tempos, tempos nos quais as pessoas querem falar sobre tudo, querem dar opinião sobre qualquer assunto, querem se posicionar em qualquer lugar, mas, em suas colocações equivocadas, deixam claro o quanto são ignorantes no que se propuseram a dissertar.

“O problema não é que as pessoas tenham opiniões, isso é ótimo. O drama é que as pessoas tenham opiniões sem saber do que falam”.

Precisamos ter nossas opiniões. Acompanhei várias palestras, entrevistas e publicações do historiador Leandro Karnal e, ao fazer suas explicações, ele aconselha que discordemos dele, que partamos em busca de informação e conhecimento para que, então, tenhamos as condições necessárias para formularmos a nossa própria opinião. Esse é um mantra, uma regra suprema que busco cumprir todos os dias da minha vida.

Quando mais novo, no início da adolescência, eu simplesmente reproduzia o que ouvia das pessoas. Se me dissessem que A era errado e que B era o certo, eu condenada o A e superestimava o B sem contestar, sem tentar entender os motivos que a um desprezava e a outro engrandecia. Até o dia que fui ignorante e ofendi alguém que conheço desde sempre. Então me indaguei, questionei-me, foi a partir daí que comecei a pensar por mim mesmo, não acredito mais no que falam, principalmente quando querem distinguir o certo do errado, agora busco pelas fontes, comparo as informações e, então, a partir do que descubro, penso não em formular uma rígida e incontestável opinião sobre determinado assunto, construo uma forma de pensar que talvez possa ser mudada conforme eu evoluir. Como Sócrates um dia instruiu, “quem não pensa é pensado pelos outros”.

Não precisamos falar sobre tudo e todos, não devemos viver nessa ansiedade de dar palpite sobre qualquer assunto, de ter um posicionamento a qualquer discurso, é melhor que saibamos bastante sobre um tema específico, do que acreditar que assistindo a “videozinhos conspiradores ou ideológicos” no YouTube ou ouvindo fielmente a correntes de WhatsApp já temos condições para teorizar sobre qualquer coisa.

Nossa petulância é tanta que falamos no lugar de um infectologista, fazemo-nos de cientistas políticos, criamos teorias sobre um vírus sendo que nem prestávamos atenção nas aulas de Biologia e ainda rotulamos as pessoas de comunistas porque vimos um tutorial de como fazê-lo, mas nunca nos permitimos à decência de conhecer as ideias de Marx. Aonde foi nossa humildade? As teorias científicas são desenvolvidas depois de anos de estudos que formularam hipóteses, testaram os resultados e chegaram a uma conclusão. As teorias científicas não são criadas a partir de um vídeo de 15 minutos, nem pelo achismo de um filósofo farsante, elas exigem seriedade com os estudos e compromisso com a verdade!

< Texto de @Amilton.Jnior >