AUTOBIOGRAFIA PART. I

Gostaria de falar sobre solidão.

Sobre a minha solidão.

Quem realmente se sente confortável convivendo com ela? É uma opção ser solitário? Como é a sensação de se ver sozinho mesmo estando cercado de pessoas? A solidão pode levar a uma crise de ansiedade? São tantas perguntas e poucas respostas. As pessoas evitam tocar nesse assunto.

Quando eu tinha 5 anos minha professora chamou minha mãe na escola. Achei que tinha me comportado mal ou feito alguma coisa errada, fiquei com medo. Na verdade, ela só queria saber se tinha algo de errado comigo, o por que eu era uma criança tão isolada das outras, realmente eu não gostava de brincar com meus colegas e raramente estava em grupos. Vivia pelos cantos da escola procurando minha própria companhia.

Não sei bem o que a minha mãe falou, nem sei se ela fez algo a respeito, acho que não.

Eu cresci assim, poucos amigos. Amante do silêncio e de lugares calmos, pouco movimentado e com uma quantidade pequena de pessoas. De preferência longe de mim. Sim, longe.

Multidões me assustam e me dão enjoos.

Certa vez, sentada com uma amiga em uma balada, ambas em uma conexão muito forte, a conversa fluia deliciosamente, mas algo iria estragar tudo. Algo não, alguém.

Se aproximou de nós um casal, bêbados, se entrometeram rapidamente na conversa. Não sei o que mais me deixava frustrada com a situação, se eram os dois ou a minha amiga que deu total atenção. Perdi o rumo da conversa, eu só queria que os dois caíssem fora dali, era pedir ou querer demais?

Pessoas novas me incomodam as vezes.

Não acho que seja uma opção ser solitário, creio que seja de certa forma prazeroso. Me sinto bem com a minha própria companhia, gosto de estar só comigo mesma.

Posso ouvir minha voz, o eco que dela soa.

Me perco nas palavras quando o assunto sou eu. Não sei me definir, nem ao menos explicar as coisas que sinto e que penso.

A verdade é que não sou de falar, mas minha mente não para. Meu silêncio tem voz, e ele grita.

Amo as pessoas que convivi, foram muitas que passaram pela minha vida em 26 anos, todas deixaram um pouco de sí comigo.

Pessoas são oportunidades. Ou você se permite conhece-las ou nunca saberá como seria. Eu tenho a plena consciência disso e não me arrependo nenhum pouco pelas que deixei entrar na minha vida.

Se elas ficaram pouco ou muito, tudo bem. Não vou por em pauta tempo ou permanência, nada é eternidade.

O que realmente importa é o que levo em meu coração, os momentos, sorrisos e os gestos de afeto que recebi.

Ser solitário não significa odiar as pessoas, não significa querer estar só o tempo todo; significa querer um tempo só seu, pra ouvir sua própria voz e poder seguir os próprios conselhos. Ser solitário é estar rodeado de pessoas mas querer a companhia apenas de uma, pois ela é mais que suficiente.

Anos atrás eu sofria por isso. Sim, eu achava que tinha algo de errado comigo.

Quando tentei mudar só me magoei, não sabia que vivíamos tempos líquidos, onde nada é feito para durar e as pessoas se vão rapidamente.

Vi tantas indo embora, me assustava com cada partida, até que acostumei e resolvi me desapegar. Hoje tenho plena consciência que nada e nem ninguém nesse mundo é mais eterno que minha companhia, eu nasci com ela e vou morrer com ela. Eu sou a forma de entretenimento mais fiel que existe.

Quando aprendi a gostar de mim e a me aceitar como sou, descobri o quanto posso ser feliz sozinha. As companhias que tenho são de pessoas que realmente permiti que entrassem na minha vida, dei total liberdade; tanto para ficarem quanto para irem quando bem entendessem.

Já não me assusto mais quando elas se vão, as vezes até abro a porta.

E quando se vão eu paro e penso: o que essa pessoa realmente fez? Qual marca deixou? E nos momentos que estou só, penso nelas, no quanto foi bom e no quanto valeu a pena cada momento. Houve carinho e afetividade, houve reciprocidade.

Sou solitária ou anti social.. Seja lá o que disserem de mim, não me importo muito. Ao contrário, me sinto calma e tranquila, sei que tenho por perto pessoas que me querem bem, por que diabos iria querer mais? Não gosto de acumular.

Vou para cama porque já está tarde, mas deixo com vocês essa pequena parte de mim. A parte que mais amo.

Letícia S Souza
Enviado por Letícia S Souza em 20/05/2020
Reeditado em 20/05/2020
Código do texto: T6953306
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.