Fluir livremente

Sinto necessidade de escrever algo, mas não estou nem um pouco inspirado para isso neste momento. Muitos podem chamar de “falta de ter o que fazer” – ainda mais se levarmos em conta que estamos em quarentena por tempo indeterminado e com isso estou impossibilitado de atuar como professor eventual –, mas não é exatamente isso. O que não tem me faltado nesses últimos dias são ocupações, sejam os trabalhos com gado leiteiro ou os intermináveis textos da faculdade à distância para ler e trabalhos para confeccionar.

De qualquer modo, há momentos em que é preciso quebrar um pouco com a rotina. Não consigo me limitar a ser uma máquina responsável por exercer algumas atividades cotidianas para fins de manutenção dos meios materiais de subsistência. Também não posso me contentar com os meios de comunicação digitais responsáveis, em sua grande maioria, por disseminar informações desencontradas sobre a situação mundial vivenciada ou por conteúdos de recreação com qualidade muito questionável.

Sou humano! Sou de carne e osso! Preciso de carinho, atenção, companhia... e meus familiares e amigos são muito importantes nesse sentido. Mas, é preciso algo a mais, há um espaço grandioso que por Deus é ocupado e um outro que apenas a arte pode preencher. Ela é responsável por dar sentido e coesão a certas coisas...

Para mim, a escrita preenche bem esse último espaço. Ela é uma forma de arte que verdadeiramente faz a diferença em meu cotidiano. Não falo de escrever apenas para fins organizacionais ou mesmo relacionados à profissão. Vou além, me refiro à escrita despretensiosa, pautada apenas no simples prazer de escrever, sem a preocupação de atender a determinados padrões e estéticas convencionais. Creio que não seja atoa eu ter aumentado consideravelmente a quantidade de escritos – especialmente poemas – feitos nas últimas semanas em meio ao caos da pandemia de Covid-19.

Acredito que as pessoas precisam ter momentos assim, nos quais não queiram ser absolutamente nada, não busquem conquistar nada e não façam nada no intuito de conseguir algum benefício externo. Provavelmente seja uma necessidade da mente e da alma humana: ter esse tempinho para apenas deixar o pensamento fluir livremente, sem barreiras, nem demarcações para que se expresse apenas aquilo que há de realmente significativo no interior de cada um...