Lirismo Oculto

O grande dilema, romper as amaras e amar em vida.

Como é difícil perscrutar a ilusão.

Sondar a matéria, atravessar com os olhos o que só a mente inteligível se abstém de compreender.

Ante a vastidão do nada o torpor do abismo engrandece o espírito daqueles que ousam se lançar a escuridão.

Somos isso, frases desconexas sem nenhuma beleza...

A música que toca ao fundo lança as mentes em devaneios luxuriosos e a esperança vã do por vir aquece um coração que ignora sua luz e se volta as trevas.

Acolhedor momento esse desvendar de mágoas intangíveis...

Mais fundo, é preciso ir mais fundo.

É Precioso ir mais fundo, até que o silêncio irrompa ensurdecedor, rompante, incessante corneteiro da melodia apocalíptica.

Sinto em meus ossos,

sinto só,

sinto o sino vibrar em mim,

ele toca lá e meu coração reverbera aqui,

a casca oca do transeunte noturno.

O que sou, se o que vem de mim são trevas...

O que sou se o que vem de mim marcha como legiões infatigáveis sob a bandeira vermelha.

O signo de Marte pulsa em minha fronte,

subjugado pelas ondas de destruição o meu mundo arqueja, caquético, busca redenção, de que!?

O que assola essa alma que não recorda o que viveu?

Na vastidão do mar de faces ele é todos e é nenhum.

Ser tem um peso que a palavra não exprime, contorce em suspiros e gritos mas não exprime.

O verbo se fez carne e a carne apodreceu,

deveria acabar mas é um recomeço ...

A roda, roda.

Como era de se esperar, o que mais esperar?

A roda cumpre seu papel, e sem saber marchando com minhas legiões, cumpro o meu.

Nas noites mais escuras e nos dias mais negros,

sou aquele que venceu à frente do abismo.

Não sei o que esperar de mim, se não, haver nascido, crescido e morrido em um mundo sórdido...

Quantas eras passam em um piscar de olhos.

Eu vivo em todas elas, como uma sombra que absorve a existência macabra da morte, sua mãe e amiga.

Que belo momento a partilhar, a compreensão da aurora sob o pudor do entardecer...

Voltando a roda, ela gira como o mundo, como eu, como o transe sagrado do dervixe. E eu, invoco aos deuses da escuridão de meu ser para que o meu transe não se vá, sob as asas do meu secreto me sinto seguro, pode parecer loucura, mas é no ressoar da última trombeta que eu me sinto são.

Que seja loucura, que seja!

Esse mundo não carece de exatidão, carece daqueles que sorvam até a última partícula de seus deleites e como a roda que gira, recebam em seus braços o peso da transmutação de tantos em tão poucos.

Quisera um ponto final dar fim a angustia como interrompe a torrente de ideias que verte da mente sorumbática, falei tanto, mas sempre volto a roda, e a bela dança do dervixe que traduz em movimento o que uma noite de melancolia guarda em suas entranhas. Quisera eu saber da metafísica e assim explicar como o vazio que habilita minha alma se traduz em um vasto lumino infinito. O vácuo não existe, é uma ilusão, como a beleza do teu olhar e o sabor dos teus lábios que se ocultam de mim pela distância e pela sordidez dos ventos que te levaram de mim... Ah os seres da noite, como os compreendo e os acolho... Já que é vasto o vazio em mim, cabe todos aqueles renegados incompreendidos, conjurados entre suspiros e gemidos inexprimíveis, cabem a todos dentro de mim. São bem vindas as criaturas das trevas, todos buscam Amor, assim como Eu; todos buscam a Deus.