Westwold, uma alegoria de nós mesmo (ou, a face oculta de desejo secreto)

Westworld, cuja ação se passa num parque do mesmo nome, é uma série que soa distópica. Será? Bem, deixemos essa pergunta em suspenso; doravante, o que será o escopo de minha abordagem, serão os aspectos que me levaram a questionamentos de outra ordem, mais realista e, consequentemente, penso, mais irmanada com nossos tempos. Nesse parque, de "diversões" para adultos, tudo é permitido; nada é proibido aos hóspedes (ricos, é claro) que podem expor e esboçar seus mais íntimos e secretos desejos ou traumas. Quer matar? Em Westworld, pode. Estuprar ? Sim, em Westworld, pode. Não existe

pecado", moral, ética, nada que possa impedir o visitante de desfrutar sua vontade. Westworld é um parque administrado por uma empresa. Fundada por Ford, personagem de Antony Hopkins, "cria" robôs, os anfitriões, habitantes do parque. Cada habitante tem uma função pré programada, ou seja, nada, do que acontece no parque está ao acaso. Todavia, e sem que se sabe as razões, alguns dos habitantes começam a apresentar comportamentos, digamos, conflitantes. E nesse tópico, pelo menos a meu juízo, que a série - falo estritamente da primeira temporada - começa a despertar alguns questionamentos. Ford, o criador de westworld, em resposta a Bernardo sobre vozes que os anfitriões relatam ouvir, conta sobre o projeto. Nesse momento fala de Arnold - um dos criadores e sócio - que queria que os anfitriões tivessem consciência. Aí ele diz, como resposta: tudo que queremos é que os anfitriões não tenham consciência. Meu in site: não será westworld uma alegoria de nós mesmos? Não somos os anfitriões "treinados" para atender os "visitantes"? Em linguagem simples: produzimos (anfitriões) para que os ricos (visitantes) possam se divertir? Ou seja: vivemos num imenso westworld administrado por gente poderosa (banqueiros, grandes corporações.,..) que proporcionam aos ricos (classe média média) mas que não estão no topo; são só uma fração mais favorecida, mas que conta com o trabalhador para ter seus privilégios. É elucidador que o criador do parque se chame Ford. Ford é o criador da produção seriada e responsável pelo desenvolvimento do capitalismo. Com ele a oferta de mercadorias - e, consequentemente, a transformação do trabalho artesanal em industrial, permitiu o desenvolvimento tecnológico e urbano. Todavia, evidenciou o surgimento do conflito de classes. Mas esse não é, por ora, o escopo dessas observações. Voltemos à Westworld. Os anfitriões não podem matar os visitantes, mas esses tem permissão pra fazerem o que bem entendem. E outra coisa: quando um anfitrião começa a apresentar comportamento "estranho", o sistema, a administração, logo se encarrega de colocá-lo no depósito e um outro é recolocado (exército de reserva, Marx). Quem são esses anfitriões que incomodam e que põe a administração em alerta, a obrigando a repensar algumas diretrizes (palavra muito citada) e remanejamentos? Penso ser uma metáfora daqueles que contestam o sistema (os subversivos) e que desregulam as engrenagens da máquina/ sistema. Por fim: Westworld é o lado sombrio, ou do inconsciente, que revela potencialidades destrutivas que imaginamos não existir. Será?