Viagem de auto-conhecimento (ou, balanço de uma vida)
E o que difere, meu amigo, a rebuscada frase - porém, sem conteúdo - da mais abjeta intenção maldosa? Talvez, digo isso, acredite, sem querer deixa-lo em maus lençóis, porque não ignoro sua reputação de bom ouvinte. Aliás, me permite essa digressão, o que o faz desfizer tudo o que lhe fez conhecido? Eu mesmo, até saber que escrevera as cartas memórias de Dr. Epaminondas - homem rígido em seus julgamentos, implacável na apreciação dos pormenores, fizeram com que outros, sem a mesma responsabilidade, que ocuparam o mesmo cargo, porém, imbuídos de vaidosos desejos e, com isso, lançaram ao limbo a magnânima tarefa de dar à palavra Justiça o real significado -, nunca ouvira nada sobre sua pessoa. O fato é que bastou umas cartas memórias para tu - que certamente morreria como a maioria dos mortais - se transformar numa celebridade mais requisitada que o mais poderoso dos homens. Numa palavra: suas cartas despertaram mais interesse do que o tal que comanda um país que, sem exagero, não diz nada que não se compare aos dejetos suínos. Suas cartas, não. E há quem diga, tenho ouvido isso com frequência, que suas cartas são um alento para essa distópica situação. Enfim, meu caro, disse, o homem que estava ao meu lado, o que talvez só ouvirá coisas que lhe agrade, mas... sempre há o mas, não pense que a vida é só glamour; a vida real dói, dói muito.