Que a gente nunca sabe, a gente já sabe
A gente nunca sabe se vai chover amanhã, se vamos sobreviver até o mês que vem, se o ônibus vai passar no horário de sempre, se no fim da noite vai ter riso solto, ou se vai ter risoto. A gente nunca sabe se vai acontecer de novo, se vão descobrir a cura da AIDS, se a Terra vai ser atingida por um meteoro, se vai existir a paz mundial, se o dólar vai cair, se o neném vai chorar, se o dinheiro vai acabar. A gente nunca sabe quando vai ser a última vez, se vai ser o dia mais dolorido do ano, se vamos conseguir passar do farol amarelo, se o destino já está escrito, se Deus existe. A gente nunca sabe quando o gás vai acabar, a nota da prova, o cheiro da nossa pele. A gente nunca sabe como controlar o fogo ou os mistérios do mar. A gente nunca sabe quando é a hora de começar a falar, o que vem depois, o que veio antes. Que a gente nunca sabe, a gente já sabe. E o que a gente sabe? A gente não sabe. A gente sabe que o tempo é relativo, que todo mundo morre, que chorar faz bem, que a paixão vira amor. A gente sabe que vai ter que aguentar firme, que vai se arrepender, que amor de mãe é imensurável. A gente sabe que hoje não é o pior dia da nossa vida, que o Sol vai nascer de novo amanhã, que a gente tem que se amar, que colo de vó resolve tudo, que fumar faz mal. A gente sabe que vai errar de novo. E mesmo assim a gente faz. A gente acha que sabe, mas não sabe. A gente não sabe o que fazer com o que sabe e insiste em saber o que não sabe. A gente queria mesmo era saber de tudo, mas a gente sabe que nada sabe, mas o que a gente sabe, sabe?