O BEIJO DO PODER
"De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o Poder
nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra,
desanimar-se de justiça e ter vergonha de ser honesto”
(Rui Barbosa)
O beijo na boca de quem naque'hora dele o recebe
E, sem perceber, absorve toda a sua peçonha... todo o seu veneno
E, assim, a ingerir em su'alma a lesão de seu mal... de sua desgraça
Daquela que, uma vez desconhecida, não a eliminará
E, destarte, inexoravelmente destruirá a vida de quem o abriga
O beijo do Poder!
A invadir tod'essência de sua vítima
Ao que daquel'hora em diante vede que deixará de ser... ele próprio
Para ser, no cerne do que nele havia,
[a própria perversidade... do nefasto Poder
Ah! Quem dera se quem dele almejasse o seria para servir!
Quando, na verdade, em sua maioria, somente o querem para si
Para, depois de possuí-lo, ser os "donos" dos outros... suas propriedades
Para qu'estes o sirvam e o obedeçam
E então! Em que lugar, de fato, s'encontra o mal:
No coração do miserável Homem... ou na substância do Poder?
Ai! Quem sou eu para tal o responder!
Ao que prefiro concordar com o fantástico Maquiavel:
"Dê o Poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é"
Mas, d’onde viria a sua corrosiva peçonha
[a que não seria das trevas do inferno?
E, portanto, eis que a antiga serpente até hoje
[com su'argúcia... a tantos engana!
A psicose do Poder!
Haveria aqui loucura maior?
Do que, quem agora o detêm, crê-se que para sempre o terá
(E, se o terá "para sempre" então ele é eterno como Deus?)
Ai! Que pena, se assim o acredita!
Ao que o tempo um dia o contrário o dirá!
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07 de Maio de 2020